Por que no fim da novela final feliz da mocinha é sempre encontrar alguém?

Se você tem acompanhado o site, ou ao menos leu as notícias de TV, você sabe que o grande assunto do dia de ontem foi o final de Eliza (Marina Ruy Barbosa) em “Totalmente Demais”. É que desde o começo da novela a menina vem dividida entre dois amores, então o grande suspensa da trama é saber com quem ela vai terminar; se com Jonatas (Felipe Simas), o garoto que conheceu quando ainda vendia flores na rua ou se com Artur (Fábio Assunção) o homem mais velho que conheceu quando começou a trabalhar como modelo.

Como se sabe, desde o advento das redes sociais e dos fandoms (gente que torce por casais, ou “shippa”, como diriam os mais jovens), um dos grandes apelos das novelas é saber quem vai ficar com quem. Algumas vezes a torcida é até legal, mas às vezes a pressão dos fãs é tão cega que acaba estragando histórias que podiam ser boas. É o caso de “I Love Paraisópolis” que sofreu com o casal principal casando no meio da novela e depois com a pressão para que os personagens de Maria Casadevall e Caio Castro terminassem juntos porque os fandoms já shippavam os casais aqui na vida real.

Acontece que ontem, depois de dar a notícia de que Eliza ia ficar mesmo é com Jonatas, um comentário me chamou a atenção. É que um leitor aqui do blog fez um questionamento bem pertinente: por que a mocinha tem sempre que ficar com alguém pra terminar feliz? Por que nunca fica sozinha, com um trabalho maravilhoso e bem sucedida – mesmo que sem um par para chamar de seu?

eliza-artur-jonatas

Realmente é verdade. Pense nos fins de novela e tente enumerar quantas mocinhas terminaram sozinhas. Aliás, quantas mulheres terminaram sozinhas e bem sucedidas. Pode perceber: quando uma personagem feminina vai terminar sozinha eles trazem um personagem de última hora, nem que seja surgido do éter pra mostrar que a coitada não vai passar o resto de seus dias sem um homem pra chamar de seu. Vários são os casos em que, sem ter um par na trama, a personagem arruma no último capítulo um namorado em uma viagem, em outro país, amigo de um amigos, só porque terminar sozinha é sempre sinal de fracasso.

De vez em quando, bem de vez em quando mesmo, a lógica é quebrada. Foi o caso de Nat (Maria Joana) na temporada “Sonhos” de “Malhação”. A menina se envolveu com Duca (Arthur Aguiar) e os dois viviam um romance que até caiu nas graças do público, mas no fim ele ficou com Bianca (Bruna hamú) e Nat ficou sozinha vivendo o sonho de ser lutadora. Na época, me lembro que a justificativa que Rosane Svartman, a autora da trama, deu para os fãs é que uma mulher não precisa de um homem pra ser completa.

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A justificativa é ótima, mas mesmo nessa lógica as coisas não são tão desconstruídas assim. A mocinha, Bianca, não ficou sozinha. Mesmo com um relacionamento já cheio de problemas com Duca, ela terminou com ele. Por que ela tem que terminar com o par que estava destinado a ela desde o começo, mesmo que ao longo da trama o romance tenha descido a ladeira? Será que sempre temos que vender em novelas essa história de que temos um amor pra vida inteira, que é nosso e destinado pra nós desde o primeiro olhar? Será que as coisas nunca mudam?

A mesma coisa acontece com Eliza agora. A moça saiu das ruas, se livrou das garras de um padrasto abusador, virou modelo e tudo que importa pro público é o que? Com que homem ela vai ficar no final.

Não nos entendam mal: não queremos ser os chatos que acham que não tem que ter romance nas novelas nem nada disso. Até porque nós sabemos que novelas também são um pouco contos de fada que tiram a gente do horror que a vida real pode ser. É bom sonhar que existem amores perfeitos, paixões à primeira vista e tudo o mais. O que não pode é a gente achar que a realização mais importante da vida de uma mulher é um homem.

Eliza vai provavelmente ser muito feliz com Jonatas na trama e vamos gostar de ver essa história de amor sendo contada, até porque ela foi muito bem construúda e Eliza é o tipo de personagem que sabe se impor. Mas é sempre bom lembrar que antes de Jonatas ela é uma personagem incrível e que com ou sem ele ou Arthur continuaria sendo. O valor de uma mulher, seja ela uma mocinha de novela ou não, está nela e não no par que ela escolhe pra ser feliz para sempre, ou pelo menos até o dia que durar. Todas as Elizas ainda são muito incríveis mesmo que terminem sozinhas no final. Talvez seja um ponto a se levar em consideração em outras histórias.

Larissa Martins

Fala muita bobagem, escreve sobre quase qualquer coisa e sabe tudo sobre a temporada da vagabanda de malhação.

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15 Resultados

  1. Renan disse:

    Pois eu acharia um porre um final assim. A pessoa acompanha uma trama durante meses, torcendo por um casal, e no fim ele ficar separado? Ainda não engoli o final forçado de Zé dos Porcos e Mafalda em “Eta mundo bom”!

    Ah, e Beatriz de “Sete pecados” pode ter terminado sozinha, mas a última cena insinuou que ela ia ficar com o delegado. Só que acabei achando forçado Dante e Clarice voltarem depois de todas as sacanagens que ele fez com ela, incluindo querer tirar a guarda dos filhos.

  2. Chris Freires disse:

    É … já que as tramas nos últimos anos estão tratando do homossexualismo com mais naturalidade ( e esperamos que isso se aprimore ainda mais) nada mais justo do que inovar nessa questão de relacionamento,da idéia das pessoas se precisarem para serem felizes. Digo pessoas e não mulheres,porque as novelas não tem só as mocinhas,mas os mocinhos também e eles também nunca terminam sozinhos,justamente porque a novela vende que é um fracasso não estar com ninguém,independentemente do sexo da pessoa. Seria legal a dramaturgia começar a vender o certo,que a felicidade é individual e não dependente do outro. Não vou negar,ADORO shippar um casal e quando shippo torço pelo o casal que nem louca,isso desde criança,isso alavancou meu interesse em toda uma novela cheia de falhas,como foi o caso de Duas Caras e Viver á Vida por exemplo,agora,eu compro também uma mocinha,não encalhada,mas cheia de independência e sem homem nenhum em um final de novela,assim como um mocinho realizado e sozinho,sem ser gay ou fracassado por isso. Uma coisa que eu tenho reparado nesses últimos anos,com toda essa moda de shippar,otp,casal fav etc. que as séries americanas trouxeram,ta dificil ter essa coisa de triângulo amoroso,o público sempre vai interferir de alguma fora,com a internet o feedback tem sido muito gritante e é dificil os autores ignorarem isso,talvez seja a hora de dar um tempo nos triângulos (e nessas várias terceiras guerras mundiais) e trabalhar com coisas diferentes.

  3. Para dar ainda mais veracidade o questionamento do texto, agora estão arrumando um crush para Jojô. kkkkkk

  4. José disse:

    Bom, acho que as novelas brasileiras são muito calcadas no clichê de um amor (hétero) cheio de adversidades ainda guiar a trama central (e mesmo que a saga do protagonista seja outra, como a busca pela filha perdida de Senhora do Destino, o amor incondicional da mãe pela filha como em muitas Helenas, ou uma saga de riqueza e poder como a do Comendador, sempre tem uma sub-trama amorosa de MUITA relevância envolvendo a/o protagonista). Dá pra contar nos dedos as novelas inovadoras que apertaram o foda-se pro romance e pro casal de protagonistas (como O Rebu). Até mesmo tramas realistas como Maneco e Lícia Manzo investem nisso (nenhuma Helena jamais ficou sozinha e os casais de A Vida da Gente e Sete Vidas se acertaram, ainda que de forma coerente com a história narrada).

    Acho que isso talvez ainda esteja um pouco enraizado na cultura brasileira de que todo mundo tem que estar sempre namorando ou em busca de um amor. Empresas de tecnologia investem no setor (Tinder e Happn, por exemplo), ou até mesmo aquelas tias sem assunto do almoço de domingo que toda semana ficam querendo desencalhar os sobrinhos jovens, ainda que eles estejam na faculdade ou querendo fazer um projeto de carreira que vá além de arrumar um namorado. E quem namora e tá ali na casa dos 25 anos e ainda não casou/mora junto, começa a ser cobrado por isso, e quem já casou, meu deus, não serão deixados em paz enquanto não tiverem filhos. Parece que essa é a lógica da vida imposta, e sinceramente, vejam as pessoas na faixa dos 30 anos hoje em dia… 90% delas estão em relacionamentos duradouros, e os programas de fim de semana, quando não são a dois ou familiares, envolvem sair em ‘casais de amigos’. Todo mundo na faixa dos 20 anos é cobrado a sossegar das baladas com um parceiro fixo que fica tanto tempo com você que vira íntimo da sua família e dos seus amigos de colégio/faculdade.

    Outro ps:::: (desculpa os textões Larissa, mas amei o tema): a Beatriz e a Eva, as protagonistas-vilãs-dúbias de Sete Pecados e Eterna Magia (ambas curiosamente exibidas simultaneamente em 2007) infernizaram os casais de mocinhos (Dante e Clarice, Nina e Conrado) mas terminaram redimidas, sozinhas e MUITO felizes. Nenhuma delas teve a solteirice como castigo pras suas maldades, elas foram punidas antes, se arrependeram e conquistaram o final feliz ficando sozinhas enquanto os casais de mocinhos obviamente terminaram juntos. Boa sacada do Walcyr Carrasco e da Elizabeth Jhin!

  5. José disse:

    Achei a matéria pertinente e muito boa, mas gostaria de pontuar algumas coisas. Na questão de protagonistas, dificilmente alguém termina sozinho, homem ou mulher. Podemos citar casos recentes, como Sangue Bom, em que o herói Bento perdeu o amor da mocinha Malu pro Maurício depois de passar meses confiando cegamente na Amora e até a última cena da novela tudo dava a entender que a Amora iria ser feliz criando os sobrinhos, reconstruindo sua vida e superando seus problemas emocionais, e que o Bento não precisava daquele amor tóxico pra ser o cara gentil e feliz da vida que sempre foi. Mas os autores insistiram pra colocar uma troca de olhares emblemática com música romântica ao fundo entre a Amora e o Bento no último segundo da novela, sugerindo que eles iam ficar juntos (não que tenha sido verdadeiramente ruim, adoro finais sub-entendidos e a história de amor desse casal principal foi realmente diferente do tradicional e bem amarrada, a Amora foi uma protagonista riquíssima e acho que merecia até mesmo uma atriz mais competente que a Sophie Charlotte). Cito também o caso de Império, mais prático, em que o herói (ou anti-herói) José Alfredo morreu sem se decidir entre a mulher oficial, Marta, e a amante Ísis (ambas amavam ele de verdade), e sem o público entender de quem ele gostava mesmo e se um dia ele se decidira por uma delas. Na cena final da novela apenas os mocinhos Cristina e Vicente e o casal preferido das shippadoras (João Lucas e Du, chaaaaaatos) estavam no clichê de juntos e felizes. Marta, Ísis, Amanda e Maria Clara ficaram sozinhas. E isso foi ótimo! (especialmente a Clara, que todos imaginavam que fosse ficar com o Enrico, que por sua vez, teve que arrumar uma figurante como esposa nos 45 do segundo tempo)
    PS: talveeez uma figura masculina do lado da Marta ou da Ísis ali provariam que elas eram mulheres independentes do pica das galáxias do comendador, né? As duas permaneceram sozinhas e em luto por 8 anos após a morte do sujeito? Ainda mais a Ísis, super jovem? Exagero né…

  6. nandoclemente disse:

    Protagonista sempre tem q terminar com alguém pq senão os fãs da novela vão falar que assistiria a novela por meses a toa! Sim eu li isso no final de Malhação Sonhos com o final da Nat e se os msm autores dessem o msm final pra Eliza,Carolina,Leila ou qualquer outra mulher da novela os fãs iam xingar horrores no twitter e Facebook

  7. Beto Samar disse:

    simplesmente porque o machismo determina que um mulher realizada é somente aquela que se torna esposa e mãe. Qualquer mulher que se atreve escapar dessa lógica será sempre a infeliz,mal amada,louca …
    E como nossos queridos autores não tem muito criatividade reservam preparam o final feliz com muitos casamentos ,(católicos) e barrigudas.

  8. Eu_ disse:

    Apenas pra complementar o comentário anterior e evitar possíveis mal-entendidos: Esse tipo de final cabe mais em um drama, mas não por ser uma coisa triste e sim porque os dramas tendem a ser mais realistas.
    A maioria do pessoal que assiste os romances só quer voar e ver os protagonistas junto no fim.

  9. Eu_ disse:

    Acho simples: as mocinhas não terminam sozinhas porque as novelas brasileiras são, em grande maioria, românticas. O público espera que esse tipo de história termine com um romance entre os protagonistas.

    Até agora, as únicas novelas recentes onde achei que caberia um final desse tipo foram as da Lícia Manzo, que são mais drama do que romance…

  10. É um assunto bem pertinente, só que não fazem isso apenas com personagens femininas. Eu também não lembro de nenhum homem numa novela que tenha ficado sozinho

    • Cíntia disse:

      Realmente é muito difícil achar personagens seja homem ou mulher que termine sozinho, em Lado a Lado algo que gostei muito foi o Albertinho terminar só, adorei mesmo, era um final apropriado para ele, real e que me surpreendeu pois nas histórias sempre tem que se ter alguém. Acho que com protagonistas é mais complicado, mas penso que talvez eles possam fazer isso como o coadjuvante as vezes, não?

  11. Parabéns, mais um texto questionador e sensacional! Se não bastasse o sobre as meninas sempre serem consideradas vilãs nos romances retratados por “Malhação”, agora esse tão pertinente no momento, realmente é algo bem incômodo (pelo menos para mim), sempre questionei isso,mas não questionava tanto na mocinha (porque acho quase impossível mudar um pouco que seja isso) e sim, nas mulheres de um modo geral nas novelas, pode ser a coadjuvante da coadjuvante, tem que ter uma figura masculina ao seu lado, ou é digna de pena, e isso já é cultural, porque até os telespectadores estranham e questionam quando uma mulher termina sozinha em uma novela.
    Não queremos o final de romances nas novelas, e isso está claramente expressado na matéria: “O que não pode é a gente achar que a realização mais importante da vida de uma mulher é um homem.” Arrasou Larissa Martins! 😉

  12. Juanita disse:

    Falei isso também. Eliza deveria terminar sozinha, arrasando em Paris, fazendo cursos de aprimoramento, como Inglês, tirando fotos pelo mundo, ficando com caras diferentes, em flashs, e não com um

    • Juanita disse:

      determinado homem. A novela, mesmo baseada em uma conto-de-fadas, mostrou-se moderna, atual para discutir determinados temas. De verdade, o melhor fim, seria com Eliza em Paris afirmando que ainda tem muita história para contar, muito o que aprender e muitos amores por quem se apaixonar.

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