A Independência do Brasil foi uma novela de Carlos Lombardi
Muitas pessoas têm seus períodos históricos favoritos, aqueles que elas leem tudo sobre, assistem a filmes que retratam a época, etc. Já conheci pessoas que amam a França da Revolução Francesa, a Inglaterra da Revolução Industrial e até mesmo o Japão Feudal. Sinto que muita gente não se atrai pela história do Brasil por motivos que vão desde a não valorização do produto nacional ou por achar a história chata mesmo. Acreditem ou não, eu também tenho uma época favorita da história, e ela é o Brasil Império. Mesmo que seja pelos motivos errados.
Não que eu seja um grande admirador da Monarquia e queira derrubar Temer para que os Bragança assumam o castelinho que fica lá no Museu do Ipiranga, longe disso. Acontece que a história do Brasil Império é muito deliciosa de se conhecer, e as escolas fazem questão de ensinar tudo da forma mais errada possível. Lembro uma vez que era mais novo e a Globo exibiu um filme da Independência do Brasil estrelando Tarcísio Meira como Dom Pedro I. Na boa, você consegue acreditar numa história que Tarcísio Meira ergue uma espada e diz que vai lutar por todos nós? Eu acho que não.
A história ensinada nas escolas é quase uma fraude, contada pelo ponto de vista de uma nação que queria a todo custo passar uma ideia de que era séria. E nessa história temos Dom Pedro I erguendo sua espada às margens do Rio Ipiranga gritando “Independência ou Morte” (como registrado no quadro famoso), mas poucos contam que na verdade Dom Pedro estava voltando de Santos vindo de um encontro com sua amante e declarou a tal independência em meio a um piriri insuportável.
Disse tudo isso apenas para falar que a história do Brasil Império é deliciosamente engraçada, com diversos fatos que os livros de história omitem propositalmente para dar a impressão de uma nação séria. Afinal, não vemos muitos livros de história falando sobre crises de dor de barriga em Napoleão, né? Por isso, uma das mais fiéis adaptações artísticas desse período é a minissérie “O Quinto dos Infernos”, exibida pela Globo em 2002 e escrita pelo mestre do humor Carlos Lombardi.
Ela começa mostrando Dom João VI como um bonachão comedor de frango que, temendo a invasão de Napoleão em Portugal, decide pegar toda a corte portuguesa, enfiar num barco e se mandar para o Brasil. Fazendo uma gambiarra, ele transformou o nosso país num puxadinho de Portugal e assim ele conseguiu escapar das dominações do Napoleão. Quem diria que o jeitinho brasileiro foi importado dos nossos colonizadores, né?
A minissérie é maravilhosa por retratar o Brasil da forma que ele realmente era na época, uma bagunça completa. E um dos grandes méritos de “O Quinto dos Infernos” é a escalação de dois personagens que foram tão maravilhosos que a foto dos atores deveria substituir as ilustrações cafonas dos livros de História. O primeiro é Dom João VI, que foi vivido intensamente por André Mattos, e o segundo por Dom Pedro I que é o nosso querido pescador parrudo Marcos Pasquim.
Sério, vocês não acham que uma nação que tem Marcos Pasquim interpretando uma figura histórica importantíssima não é maravilhosa? Muuito melhor que ver Tarcisão no mesmo papel, até porque nem os livros de história conseguem esconder o caráter barraqueiro do nosso primeiro Imperador. Dom Pedro era briguento, pegador e todas as outras características que vemos aos montes nas novelas e séries de Carlos Lombardi, que soube transformar a História do Brasil em um retrato incrível de se assistir. É até injusto falar só de André Mattos e Marcos Pasquim no elenco dessa minissérie porque ainda rolou Humberto Martins interpretando Chalaça, Betty Lago vivendo a insana Carlota Joaquina e José Wilker como o Marquês de Marialva.
Recomendo fortemente a minissérie “O Quinto dos Infernos”, mesmo que o único grande erro histórico esteja no próprio título. Afinal, a expressão “o quinto dos infernos” não se refere ao Brasil, e sim à quinta parte do ouro que o pessoal de Minas Gerais precisou pagar em meio ao ciclo da mineração por lá. De qualquer forma, “O Quinto dos Infernos” pode ser aprecisada em reprises ocasionais no Viva ou em um BOX de DVD que este redator aqui sempre sonhou em ganhar de presente.
Gosto da minisserie e adoro o Brasil império.porém se a minisserie é ótima como entrenimento,ela deixa a desejar como retrato histórico.d.João.d.Carlota Joaquina,d.Leopoldina e d.Miguel não foram como a minisserie os retratou
os fatos históricos foram torcidos propositalmente justamente pra não melindrar os persongens, as tramas são baseadas em fofocas da época
o título da série tem a ver com uma crônica de Paulo Setúbal onde ele contava que D.Maria I não queria desembarcar no Rio e gritava que tinha sido levada para o quinto dos infernos
Assisti O Quinto dos Infernos em 2002 e apesar da comédia escrachada e da fúria que isso provocou na Família Bragança acho que a História foi bem contada, em se tratando de uma trama que misturava fatos reais e fictícios.
É bom lembrar que também a falecida Manchete produziu em 1984 a minissérie Marquesa de Santos contando a mesma história tendo Gracindo Jr. como D. Pedro e Maitê Proença como a Marquesa. Foi com o sucesso dessa minissérie que resolveram repetir a dobradinha dos dois em Dona Beija.
O Carlos Lombardi assinou uma série de sucessos, e sua última novela global, Pé na Jaca, registrou 30 pontos. Na época pareceu ter derrubado o horário, mas 2007 foi um ano muito crítico (Paraíso Tropical com “só” 43 pontos e Eterna Magia com “apena” 26 pareceram absurdamente fracassadas, mas em dois anos a Globo já se dava por satisfeita que as novelas dessem esses números). Sete Pecados registrou os mesmos 30 pontos e foi até reprisada. E no ano seguinte, ele viria a produzir a deliciosa série Guerra e Paz, reprisada no Viva este ano (que não deu certo nas noites de sexta-feira como todas as produções da faixa pós-Os Normais).
Enfim, acho horroroso o desprezo da Globo por ele. É incompreensível… ele deve ter alguma rixa pessoal com o Sílvio de Abreu (que tem o ego lá no alto por se achar o caralhudo das novelas de comédia das 19h, sendo que suas novelas sempre foram tapete das do Lombardi).
Basta comparar o caso Guerra dos Sexos. A primeira versão teve colaboraçao do Lombardi (ainda pupilo do Sílvio e do Cassiano). A segunda versão não teve.
Não é o caso. Lombardi e Sílvio de Abreu sempre foram amigos. O Sílvio que o descobriu e em 2012 fez o maior esforço pra ele ficar (contou sobre isso em entrevista), mas o Lombardi queria mesmo assim sair. E na época quem estava na direção artística era o Manoel Martins. Em 2014, aliás, com o Lombardi já na Record, o Sílvio o citou em uma entrevista de autores que tem orgulho de ter descoberto, junto com o JEC, Daniel Ortiz, etc.
Adoro o Brasil Império, pois sou apaixonada por História! E concordo com tudo que disse! Enquanto os livros de história varrem a sujeira pra debaixo das saias volumosas de rainhas e princesas, nós perdemos um divertido conteúdo, não somente no Brasil, mas em qualquer outro país que já teve ou ainda mantém sua monarquia. Há algo de podre, não somente no reino da Dinamarca, que deveria ser revelado sem tantos floreios. Lembro que eu era muito criança para ver O Quinto dos Infernos, mas lembro das minhas noites de surdina vendo a abertura animada e logo mais sendo expulsa da sala. Tive a oportunidade de rever no Viva e, realmente, é uma obra a se olhar com mais consideração…
Excelente post! Sempre bom contar com o humor ácido e irônico de vocês aqui no Coisas de TV!
Amo essas produções relacionadas à historia do Brasil, mas não curti essa minissérie. Há meios mais inteligentes de incorporar uma história de ficção em um período histórico, vide, por exemplo, a maravilhosa série juvenil “Família Imperial” escrita por Cao Hamburguer e produzida pela Tv Cultura a alguns anos atrás: tinha humor (tatá Werneck como a desvairada Carlota Joaquina é riso na certa), tinha história, tinha até trama paralela e nem por isso precisou se distanciar dos fatos reais. Outro exemplo é o controverso filme “Carlota Joaquina, princesa do Brasil” estrelado por Marieta Severo, mesmo com exageros, manteve-se próximo aos fatos.
Enfim, considero “O quinto dos infernos” como uma sátira bem-humorada, mas não a recomendaria para alguém que quer conhecer a história do Brasil.
De qualquer forma, é melhor um Marcos Pasquim interpretando um Dom Pedro descamisado, do que um Caio Castro interpretando um Dom Pedro inexpressivo.
Que materia sensacional. Sou suspeito a falar porq amo o autor mais anarquico da tv brasileira. Lombardi sempre foi inteligente e bem humorado. Pena que injustiçado, na época em que fazia novelas na globo davam mais valor ao dramalhão (que ele tbm tem) e a censura indicativa o prejudicou muito tbm. Alem de esteriotipa-lo pelo mais banal, a nudez de seus personagens (moralismo?) esquecendo do texto sempre afiado, ácido e divertidíssimo. E mexendo com história que é uma área toda cheia de não me toques… Shiiii. Até portugal criticou a forma como a família real foi representada. Claro que havia exageros, mas era uma otima obra ficcional e a mais próxima da real. Fico imaginando o Lombardi hoje no horario das onze da globo, sonhando mesmo hahaha. Nunca pedi nada a globo, mas #VoltaLombardi