“Haja Coração” tentou parecer moderna, mas teve texto cheirando a mofo

Quando Daniel Ortiz decidiu pegar “Sassaricando” e colocar no microondas, achou melhor mudar o nome da novela para “Haja Coração”, colocar personagens novos e até requentar gente de outras novelas de Silvio de Abreu. Tudo isso foi feito para tirar aquela impressão de novela desatualizada que tivemos quando “Guerra dos Sexos” estreou em 2012. Infelizmente, sou obrigado a falar que o truque não deu muito certo e teve um diálogo em especial que mostrou o quão datado ficou o diálogo.

Em um encontro de Penélope (Carolina Ferraz) com seu filho Beto (João Baldasserini), a personagem explicou como era a relação dela com o marido ausente. “Ele me trocou pela televisão” disse a personagem na novela, e na hora algo me apitou que não estava legal.

Eu explico: essa paixão por televisão é algo bem antigo, lá pelos idos dos anos 70 e 80. Com a popularização do meio, surgiram os aficionados pelo aparelho. Tanto que até Mauricio de Sousa, criador da Turma da Mônica, criou um personagem para representar essa época,o Teveluisão. Em uma recente reaparição do personagem no gibi da Magali, ele foi devidamente zoado por causa de seu estilo “antiquado”:

Acontece que hoje em dia não existe mais gente que consome televisão dessa forma. Nem mesmo os mais velhos. Mesmo a personagem dizendo que o marido depois se viciou em celular, o texto me pareceu extremamente datado. Fui então fazer uma pequena investigação e… qual não foi a surpresa ao encontrar a cena original de “Sassaricando” com Eva Wilma (a Penélope da época) dizendo para seu filho Beto que seu marido havia se viciado em televisão?

Porém, nos anos 80 era coerente ver tal diálogo. A cena pode ser vista abaixo:

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=995tn2FOhys?rel=0]

Sei que você pode estar pensando “nossa, mas vocês do Coisas de TV estavam implicando com essa novela desde sempre, claro que iam arranjar algo para implicar”, mas vou tentar defender. Sim, seintíamos que a novela tinha muita coisa errada, mas mesmo assim fomos assistir à trama de peito aberto. E, principalmente, teríamos a decência de elogiar a novela caso nos atraísse, mas não foi o caso. Tirando algumas atualizações que deram muito certo (como a Ellen Roche que o texto está divertidíssimo e bem atual), o resto da novela está com aquele cheiro de blusa de frio que deixamos um ano no armário.

Sim, cheiro de MOFO.