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Como o 11 de setembro quase prejudicou “O Clone”

Você se lembra onde você estava no dia 11 de setembro de 2001? A não ser que você seja um leitor novinho que nos acessa apenas para ver a gente falando mal de “Malhação”, é provável que se lembre desse dia tão histórico. Todo mundo sempre fala “ah, no dia 11 de setembro eu tava fazendo isso e aquilo”, mas eu tenho curiosidade de saber como foi o dia de Gloria Perez naquele momento. Afinal, o atentado terrorista às torres gêmeas nos EUA poderia ter prejudicado e muito a próxima novela da Globo, que seria “O Clone”.

Em setembro de 2001, a novela das oito (que ainda era das oito) vigente era “Porto dos Milagres” e se encontrava na reta final. Enquanto estávamos ansiosos para ver os assassinatos criativos de Malvadma e vibrávamos com Flávia Alessandra interpretando uma mocinha que vira Iemanjá no último capítulo em uma cena um pouco menos cafona que a revelação de Naomi Robô, Glorinha Perez já estava com tudo encaminhado para a sua nova novela das oito. Ela não assumia o horário desde “Explode Coração” em 1995 e sua última novela tinha sido a não-tão-legal-assim “Pecado Capital” (aquela que o Viva já anunciou e cancelou trocentas vezes). Para voltar com tudo, ela criou uma história bem viajada mesmo misturando clonagem de seres humanos e muçulmanos, bem no estilo Glorinha de narrativa.

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Porém, o onze de setembro aconteceu e todo o mundo virou os olhos para o Afeganistão e o radicalismo religioso de lá. Como não podia deixar de ser, a parte mais barulhenta da nossa imprensa começou a taxar o pessoal de lá como terrorista e a imagem dos muçulmanos ficou ficou mais suja que Elizabeth Savalla em núcleo do chiqueiro das novelas do Walcyr. Enquanto os sensacionalistas (que na época ainda eram os mesmos sensacionalistas que vemos hoje na TV) bradavam contra o Corão, a parte ~mais sensata~ da nossa imprensa plantava notinhas dizendo que Gloria Perez estava ferrada porque iria estrear uma novela com muçulmanos em meio a um período conturbado desses.

Qualquer autor ficaria com medo de abordar o assunto, mas Glorinha Perez não é qualquer autor. Essa mulher de garra que escreve sozinha e de pé se manteve firme e viu “O Clone” estrear como previso no primeiro dia de outubro daquele ano. E o resultado? Um sucesso absoluto.

Vocês devem saber que “O Clone” é uma das novelas de maior sucesso da Globo neste século, sendo exportada para quase cem países e ganhando um remake que foi vendido de novo pra dezenas e dezenas de nações pelo mundo. E um dos grandes méritos de Gloria Perez foi como ela conseguiu fazer uma novela de entretenimento que fazia uma introdução ao Islamismo sem ser cafona e sem aplicar aquele olhar que toda a imprensa ocidental estava aplicando.

Podemos dizer que, seguramente, Gloria Perez ajudou muito a difundir a religião e limpar a imagem dos muçulmanos. E isso com uma história de uma garota que se apaixona perdidamente pelo clone de seu antigo amado!

Fábio Garcia

Eu só faço a contabilidade

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18 Resultados

  1. Zuleide disse:

    A imprensa faz tudo pra vender jornal, revista e conseguir acessos. É sempre assim. Vide o caso do Montagner. Eles não se importam em fazer uma análise aprofundada/serem mais brandos nesse caso do 11/09. Só ligaram pra polemizar, pro povão falar mesmo. E anos depois, já estavam endeusando O Clone, merecidamente, é claro. Foram muito imediatistas. Mas nada disso me surpreende.

  2. Dan GN disse:

    Aliás, o que não faltou foi coisa pra quase prejudicar O Clone.
    Pra começar, antes de O Clone, Glorinha tinha uma fama danada de só escrever novela zicada, e ninguém queria fazer a novela dela. Cada ator que era convidado vinha com uma desculpa diferente, mas verdade é que ninguém queria fazer O Clone, todo mundo só queria saber de fazer As Filhas da Mãe (olha como é o destino!). Aliás, a imprensa e própria Globo pareciam bem desacreditados do sucesso de O Clone, e pareciam só ter olhos para As Filhas da Mãe.
    O drama começava na direção. Foi um entra-e-sai de diretores, cada um com um motivo mais esfarrapado que o outro, até que finalmente Jayme Monjardim topou seguir com a novela.
    Fabio Assunção e Ana Paula Arósio, os dois primeiros protagonistas pensados por Glorinha, recusaram, assim como Letícia Spiller (que inclusive foi punida não podendo ser escalada pra outras novelas até segunda ordem). Pode parecer até brincadeira falar isso atualmente, mas em 2001, Murilo e Giovanna foram escalados já como total falta de opção. Ele já tinha feito alguns personagens de destaque em novelas flopadas e estava escalado pra fazer um personagem pequeno em O Quinto dos Infernos, e Lombardi abriu mão dele em favor da Glória. Giovanna foi premiada por seu bom desempenho em Laços de Família um ano antes, mas havia dúvidas na Globo se ela tinha cacife pra ser protagonista de novela das oito, diziam alguns jornais; 15 anos depois dá vontade de rir disso. Mas é verdade, se analisando hoje, em 2016, o elenco de O Clone parece muito bom, em 2001, antes de a novela estrear, o elenco parecia fraquíssimo pra uma novela das oito. Moscovis não quis fazer Said, sobrou pro Dalton Vigh, que até então só tinha feito novelas nas outras emissoras e uma ou outra ponta (como em Andando Nas Nuvens). Glorinha queria contar com Cuoco ou Raul Cortez pra pro papel de Ali, mas os dois estavam em As Filhas da Mãe. Enfim, Glorinha juntou um elenco com bons atores, mas sem muita expressividade até aquele momento (2001). Pra se ter uma ideia, a maior estrela daquele elenco era Vera Fischer (!!).
    Mas mesmo assim, com muita competência, Glorinha conseguiu cativar o público com sua excelente novela, que acabou se tornando uma excelente oportunidade para a maioria dos atores, que acabou sendo alçado ao estrelato depois de O Clone. E olha que o problema não foi só pra montar a equipe, teve que driblar ainda Casa dos Artistas, epidemia de dengue no elenco e, claro, o próprio 11/09 já citado na matéria. Enquanto a desacreditada O Clone terminou marcando a história, a superestimada As Filhas da Mãe derrubou o horário das sete e caiu no esquecimento. Já diria a música de O Clone: “Ah, se pudéssemos contar as voltas que a vida dá…”

    • Dan GN disse:

      Esclarecendo (acho que pode dar margem a outro entendimento): o entra-e-sai de diretores foi antes de a novela começar a ser produzida. Se não me engano, LFC e Saraceni chegaram a ser confirmados como diretores da novela, mas depois desistiram. Só aí Monjardim entrou, mas ainda antes de a novela começar a ser produzida.

  3. Dan GN disse:

    Nem tinha como ela voltar atrás, faltava menos de um mês pra novela estrear e as chamadas já estavam no ar.
    Na época, a Globo ficou sim muito assustada com a repercussão negativa que a novela poderia ter por causa dos atentados, eu lembro que todos os lançamentos da novela os atores todo o tempo reforçavam tentando dissociar ao máximo a novela da tragédia que havia acabado de ocorrer.
    Lembro nitidamente do Stenio Garcia no Video Show dizendo dias antes da estreia “vai ser uma excelente novela, não tem nada a ver com esses atentados que nós vimos aí…”

  4. Ricardo Becker Maçaneiro disse:

    Não só me lembro do 11 de setembro como do fuzuê que foi a pré-estreia de O Clone. Creio que a direção da Globo foi super sensata em estrear a novela sim e de fato ajudou muito na compreensão, até onde era possível em uma novela, da cultura árabe e da religião islâmica. Claro que a imprensa escreveu absurdos contra o islamismo idealizado da Glorinha, mas ela fez o que pode.
    E foi sucesso e continua sucesso.

  5. Chris Freires disse:

    Quando esse atentado aconteceu eu tinha 5 anos,então eu lembro vagamente. Agora,o que não pode ser negado é o sucessão que foi O Clone,eu só queria ser a Jade,os bordões “inchalá,muito ouro” “já estava escrito” “não é brinquedo não” eram febre e são usados até hoje. Aquela pulseira anel da Jade,eu e todas as minhas amigas e primas tínhamos uma,Jade e Lucas foi um dos primeiros casais que shippei ( acho que segundo,o primeiro se não me engano foi Fred e Capitu) e foi um dos mais shippados por todo mundo até onde minha memória jovem novelística alcança,todo mundo saia cantarolando por ai “Somente por amooor …”. Foi uma novela cheia de absurdos como esses que só Glórinha sabe fazer? era SIM,os mulçumanos todos falando português e conversando tranquilamente com os brasleiros,era só pegar um táxi pra ir de um país pra outro,assim como costumam ser as novelinha da Glória mesmo,mas O Clone era tão boa que ninguém ligava … Pena que essa foi a última novela boa dela,porque depois foi trambolho atrás de trambolho,fico até com medo quando anunciam que a novela seguinte será a dela.

  6. Fernando Clemente Guedes Barreto disse:

    Os jornalistas tbm hein? Tem hora que são bem sacanas ou se fazem não é possível Acaso a Gloria Perez quando desenvolveu a história da novela sequer sonhava que ia acontecer algum atentado? Ela por acaso era alguma vidente pra prever isso??? E ela ia fazer o quê? Jogar td a trama fora e a Globo ia colocar o quê no ar em outubro daquele ano?? Esses jornalistas devem achar que a Globo consegue criar td uma estrutura de novela do nada com 2 semanas e estrear……..

  7. Um Noveleiro disse:

    O Clone foi maravilhosa! A começar por aquela abertura. Um primor!

  8. Fernando disse:

    O Clone novela ótima a melhor da Gloria Perez sem dúvida, realmente a missão dela foi difícil, a novela teve dificuldades de elenco, vários atores recusaram o papéis! Letícia Spiller seria a Jade e recusou o papel, Fábio Assunção seria os gêmeos Lucas e Léo, a diretora da novela seria a Denise Saraceni que desistiu pois não botou muita fé. Além disso tudo acontece essa tragédia, Glorinha foi firme em não mudar os planos.

  9. Iara disse:

    Pena que Glorinha se despediu da parceria com o Monjardim em América. Tá que o começo não foi essas coisas, mas a novela ficou muito trash com a saída dele (e as próximas novelas dela seguiram esse mesmo caminho de voar sem rumo certo)
    PS: Eu estava assistindo Sailor Moon na Eliana na hora do atentado. Quando eu vi que era plantão, eu queria que voltasse logo para as Sailors, mas pensa no susto quando a transmissão apareceu e minutos dps vc vê o segundo avião.

  10. Sandy disse:

    Me julguem mais pra mim o Jayme Monjardim é um dos melhores diretores da atualidade (mesmo primando por uma direção de cenas mais lenta e tentando emplacar a todo custo musicas da Tânia Mara. Obs: Por que será que Sete Vidas não teve musica dela?) O clone era muito bem dirigida, apesar de cult, diferente da direção de “caminhos das Índias” e América que era muito sem identidade. O Clone era meio mágica, eu amava.. Mas a primeira fase era muito chata. Só com a Jade e Lucas somente-por-amor-agente-põe-a-mão-no-fogo-da-paixão Zzzz Mas depois a trama engrena e fica muito boa (como todas da glória). Ainda sonho em ver uma novela da autora que não seja trambolho cult e sim trash assumido, quem sabe com o Wolf ou a saraceni?

    • Zé Emerson disse:

      Eu tbm detesto novela sem identidade. Como bem designaram por aqui, novelas picolé de chuchu. E isso a globo tem feito muito nos ultimos anos (talvez p ganhar mais o plublico plural, ledo engano). Quanto a glorinha, vamos ver se as novelas dela ganham identidade agora com a direção do papinha.

  11. Roberto Filho disse:

    O clone era bem legal, pena que depois me pareceu que Glorinha ficou tentando fazer um remake disfarçado do seu fenômeno e pra mim sua carreira foi so ladeira abaixo: América e Caminho das Índias foram bem ruins e a novela da Morena traficada pra mim foi a Gota d’água

  12. Leandro Peixoto de Melo disse:

    Sem querer sem chato, mas não tem notícias do CoisasCast?

  13. Zé Emerson disse:

    Gente, desse babado eu não sabia. Mas a glorinha arrasou mesmo. Tanto que é a ÚNICA novela dela que eu gosto. Gosto não, amo. Justamente por não ser tão caricata quanto as outras que vieram depois. Ela conseguiu aliar muito bem tradição x modernidade com muita humanidade, além da belíssima direção do Monjardim. Ainda bem que ela teve bom senso de trabalhar com a cultura mulçumana sem vilanizar.

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