A atual temporada de “Malhação” mais acerta do que erra

Falo aqui nesse espaço –  e em todos os outros que ocupei com o Fábio – tanto de “Malhação” que espero que um dia me deem um título de especialista no assunto. Enquanto isso não acontece, sigo sendo a única pessoa nesse site que tem paciência pra aguentar toda e qualquer temporada dessa novelinha. E como vocês sabem, nesses últimos anos a gente teve temporadas ótimas (“Intensa”, “Sonhos”) e temporadas nem tão boas assim (“Casa Cheia”, “O Seu Lugar no Mundo”).

É inclusive pelo fato da última temporada da trama não ter sido assim nenhuma maravilha que a gente ficou com um pé atrás com essa que estreou agora. Até porque, por ser escrita pelo mesmo autor e por trazer alguns personagens de volta, o medo de ser um spin-off mal feito bateu forte no peito da gente. Só que não temos problema algum em dizer que ok, erramos, e a verdade é que essa nova temporada de “Malhação” mais acerta do que erra.

Os miniepisódios que serviram como teaser foram um verdadeiro fracasso. A protagonista parecia fraca, os diálogos eram mal trabalhados e a gente chegou a dizer que, se dependesse daquilo ali que a gente viu, nossas expectativas seriam baixíssimas. Só que a novela estreou, Joana (Aline Dias) é bem menos songamonga do que parecia – ela é inclusive bastante arretada -, Bárbara (Bárbara França) veio como uma vilã dessas que a gente ama odiar e o núcleo adulto tem umas histórias interessantes.

De mais ou menos aquele núcleo adolescente que fica no MOFO, mas até eles melhoraram. Um exemplo é o recente envolvimento de Juliana (Giulia Gayoso) com Jabá (Fabio Sacalon). Em um dos capítulos recentes, Ricardo (Marcos Pasquim) fez questão que o namorado da filha fosse jantar em casa e ele, do nada, soltou um comentário bastante machista: “se homem fosse acreditar em todo não que ouve de mulher, morria virgem”. Ricardo ouve o comentário, acha de péssimo gosto e pergunta para a filha porque ela, uma menina tão moderna e dona de si resolveu namorar um cara tão machista e grosso como Jabá. Bom momento e boa reflexão, especialmente em uma novela voltada para o público jovem.

O triângulo – ou quadrilátero – amoroso que envolve Luíza (Bárbara Maia), Jabá, Juliana e Lucas (Bruno Guedes) também deu um pouco de graça ao núcleo que antes se dividia em brigar com o diretor da escola e ter um bode como animal de estimação.

De pouco original, só os dois triângulos amorosos envolvendo irmãos. Giovane (Ricardo Viana) se apaixonou do nada por Joana e os dois irmãos brigam por ela, enquanto Caio (Thiago Fragoso) resolveu ter um trelele com Tânia (Débora Secco) e ficam ele e Ricardo brigando por ela. Mesmo assim, as cenas rendem bons momentos.

Outro acerto é o quarteto formado por Jéssica (Larissa Ayres), Nanda (Amanda Di Godoi), Belotto (Sérgio Malheiros) e Rômulo (Juliano Laham). Os dois casais funcionam muito bem juntos e Nanda e Jéssica, além de ótimas atrizes, eram um dos poucos acertos da temporada anterior. A única parte chata é aquele manjado sistema de lutas clandestinas em que o tal do Rômulo se enfiou e que lembra muito o chatíssimo esquema de apostas da Khan da temporada “Sonhos”. Pelo menos, dessa vez não apareceu um advogado do éter comandando o esquema e fazendo com que a história dure a novela toda.

É legal ver que a novela evoluiu, que outros assuntos estão sendo abordados, que feminismo se tornou uma pauta corriqueira em uma novela voltada para o público jovem e que a Globo parece ter parado de tratar adolescentes como pertencentes de um mundo à parte e começou a falar mais diretamente com eles. A atual temporada de “Malhação” não é a melhor que já vimos no ar, mas cumpre bem o seu papel.

É entretenimento de qualidade ok para o público que se destina. Mas longe da gente comentar demais. Afinal, quem comenta é comentarista.