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Ao propor discussões rasas, “Malhação” subestima a inteligência do público e deixa preconceito a mostra

Se você acompanha esse blog há tempos, sabe que um dos meus assuntos preferidos é “Malhação”. É tanto tempo falando disso que acho que podia ir no programa da Sônia Abrão comentar só para aparecer no GC meu nome com o subtítulo “especialista em ‘Malhação'”. Exageros à parte, a novelinha que já completou mais de vinte anos no ar vive de altos e baixos. Já teve temporadas incríveis (2004, 2012, 2014) e outras esquecíveis (“Casa Cheia”, estamos falando de você). Atualmente, estamos aí às voltas com a temporada “Pro Dia Nascer Feliz”, que vive de momentos bons e ruins. Enquanto acerta em várias coisas, subestima nossa inteligência em outras.

Se você acompanha bastante os sites sobre TV, deve ter lido que nessa semana que passou, uma polêmica tomou conta da novelinha. É que em uma das cenas, rolou um episódio bem feio de preconceito contra as pessoas que estão acima do peso. Em uma dada hora, Joana (Aline Dias) e Giovane (Ricardo Vianna) estão comendo cachorro-quente quando ele solta a seguinte pérola: “Promete que você vai ficar bem gorda pros caras pararem de chegar  em você?”. À afirmação estapafúrdia, Joana responde: “Ah! Gorda? Pra você me largar? Nada Disso!”. Ele diz que ia continuar gostando dela mesmo gordinha, mas a essa altura o estrago já estava feito.

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A cena repercutiu bem mal na internet (com toda razão) e acabou ficando bem feio pra novela. Vale lembrar que antes que alguém apareça dizendo que isso é a famigerada “frescura do politicamente correto”, a gente explica que não é não. Primeiro porque é bem tenebroso supor que só porque a pessoa tem um tipo diferente de corpo ela se torna automaticamente não atraente pros caras. Segundo que, sério, pedir pra namorada engordar pra “ninguém chegar nela”, como se ela fosse uma propriedade exclusiva do cara ou algo assim é outra ideia bastante ruim pra passar como certa, principalmente pro público-alvo da novela, que é bem jovem. Destilar preconceito é o tipo de coisa que não deve acontecer em nenhuma instância, principalmente na TV ou em uma novela.

O que nos deixa felizes é que, hoje em dia, essas coisas não passam mais impunes. Na hora que a cena foi ao ar já teve uma galera que estava assistindo à trama e que reclamou do texto horrível nas redes sociais. Sinal que, hoje em dia, um autor tem que tomar muito cuidado ao escrever uma novela. Não é qualquer coisa que passa impune. E ainda bem. Tanto foi assim que a tal cena foi parar em vários veículos de comunicação.

Ainda bem porque essas últimas duas temporadas (ambas escritas por Emanuel Jacobina) subestimaram demais a inteligência do público no que diz respeito a tratar temas delicados ou ao fazer merchan social. Tomem como exemplo a triste abordagem sobre a AIDS na temporada passada em que um festival de desinformação foi destilado de modos que, depois de um tempo, o personagem soropositivo chegou a sumir. Foi tanta informação dada indiscriminadamente que só restou ao autor perceber que não dava mais pra tentar tocar no assunto. O erro já tinha sido feito e tinha sido feio.

Só que parece que nem um erro de proporções gigantescas como esse da temporada passada fez com que o autor se tornasse mais cuidadoso ao tratar assuntos delicados. É que enquanto por um lado a trama acerta em certos momentos, como por exemplo ao retratar a gravidez na adolescência como algo complicado – mostrando inclusive um pai que não quer assumir uma criança, realidade que é bem mais verossímil do que a menina que descobre gravidez e vive feliz pra sempre desde o primeiro momento -, erra em vários outros quando vai tratar de racismo mas fala dele como se fosse uma coisa que só é praticada por um vilão super caricato, e não uma coisa que acontece com mais frequência -e em com mais pessoas- do que imaginamos.

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Vale lembrar que “Malhação” até falou de preconceito, mas pra isso trouxe um cara que entrou na academia sem medo de ser racista a torto e a direito, o que acabou na expulsão dele da “Forma”. Só que falar de racismo assim é fácil, como se todo mundo que praticasse fosse sempre uma pessoa descolada da realidade que toma quase ares de monstro. Quando, na verdade, o racismo é tão entranhado na sociedade que pode ser praticado até por aquele cara gente boa que é amigo de todo mundo, mas que acha que ok fazer uma piada com negro de vez em quando. Só essa abordagem controversa já dava a entender que a novela não estava muito interessada em informar e sim em fazer ali um merchan social rapidinho pra não dizer que não fala dessas coisas. Dá pra tomar como exemplo também, Bárbara (Bárbara França), que é uma máquina de preconceitos, mas que é tão carregada nas tintas que nem abre espaço pra uma discussão mais séria.

Ao tratar assuntos sérios com a profundidade de um pires, a novela subestima a inteligência do telespectador, que pode ser jovem, mas está longe de ser mal informado. A prova disso é que ideias equivocadas, como a do Giovane que quer que a namorada engorde para que ninguém chegue nela, já não tem mais espaço em uma trama veiculada em 2017, e ainda bem. Isso prova que não só o público está mais atento, quanto mostra ao autor que não adianta tentar enfiar qualquer coisa na goela de um público adolescente porque eles não compram mais essas bobagens. E é bom que esse recado seja entendido. Não vai adiantar pontuar um racismo ou um machismo aqui e ali tratados em um tom quase professoral, para um público que já sabe ler nas entrelinhas. E não adianta fazer como canta o grupo “As Meninas”, um “tapa aqui descobre ali” quando for pra falar de assuntos sérios como preconceito.

Vale lembrar também que a novela teve um outro diálogo infeliz quando Sula disse que no Rio só tem gente bonita, ao contrário do Ceará, e que ela já estava até com “saudades de ver gente feia”. Essa foi outra pérola que não repercutiu nada bem e prova como o público da novela não suporta mais esses preconceitos velados sendo reproduzidos como se fossem nada.

Ficou feio e pra finalizar deixamos aqui um recado que a MC Carol postou no Facebook deixando bem claro que umas cenas (e uns pensamentos) como esses não tem mais espaço na TV – ou em qualquer outro lugar. Esperamos que os autores aprendam com o erro e percebam que em 2017 tem coisa que já não dá mais.

Larissa Martins

Fala muita bobagem, escreve sobre quase qualquer coisa e sabe tudo sobre a temporada da vagabanda de malhação.

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22 Resultados

  1. Chris Freires disse:

    Concordo que a frase foi preconceituosa,mas também concordo que a sociedade só fica NOOOOSSA quando é a mulher que sofre esse preconceito,quando é o homem sendo chamado de gordo é sempre ok.

  2. Larissa Santos disse:

    Tv não tem que ensinar porra nenhuma. Educação vem de casa.

  3. Tai disse:

    Parei de assistir isso. Eh tanta coisa besta esses ciúmes doentio do Giovanni, me admira muito uma jovem tao “descontruida” como a Joana ter soltado uma dessas. A pergunta do Giovanni foi babaca e a resposta dela foi mais idiota ainda.

  4. Alexia disse:

    Se fosse ela dizendo isso pra ele a maioria que criticou nem ia ligar e ainda ia achar graça. É só hipocrisia mesmo e a tentativa desesperada de parecer politicamente correto.

  5. Rafa disse:

    Ninguém vai falar nada sobre a temporada do Cao Hamburger que vai ter duas vilãs que vão se chamar K1 E K2

    KKKKKKKKKkkkkkk

  6. Enigman disse:

    Chocado que os comentaristas do G1 chegaram aqui no site.

  7. Biel disse:

    O esporte favorito de vocês é implicar com essa temporada e enaltecer temporadas toscas como a de 2012 e a de 2014. Aliás, me expliquem o que tem demais a temporada de 2004? Ela não é essa Coca-cola toda não. O que ela tem de diferente das outras? Casal de mocinhos e uma vilã de arrepiar, assim como a temporada da Casa Cheia. A temporada atual é ótima, se fosse ruim não estaria há quase 2 anos no ar

    • Leandro Peixoto de Melo disse:

      Pelamordideus, eles gostam dessa temporada!!! Não gostavam de Seu Lugar no Mundo, mas dessa gostam; tem matérias falando bem dela. E mesmo assim eles vão criticá-la se encontrarem falhas. Mesmo que a Larissa fique a temporada Sonhos de incrível, ela também criticava quando não curtia alguma parte da historia, e ela criticou muita coisa naquela novela. E agora estão criticando Pro Dia Nascer Feliz porque realmente acharam que esse diálogo sobre engordar foi um erro péssimo, e ainda assim vão continuar assistindo a temporada e falando bem quando quiserem apontar algo que acham que é bom.

    • Rafa disse:

      Até parece que ao menos a Sofia (Hanna Ramanazzi) e o Miguel (Vitor Thiré) da Casa Cheia batem a nossos queridos vilões Natasha (Marjorie Estiano) e Catraca (João Velho) de 2004 sendo que na realidade não chegam aos pés deles.. Nos poupe!

      • Jessica Oliveira disse:

        ps: Eu não gostei de casa cheia, nem sou de assistir malhação.
        As vezes assisto uns episodios da temporada que passa agora porque as vezes resouvo ver, porque minha mãe e minha prima assistem e gostam.
        Mas não sou de ver todo dia, só assisto aciduamente mesmo a novela das empreguetes que tão reprizando agora na globo e rock story. o resto não tenho
        paciência, pra novela das 6 principalmente.

    • Jessica Oliveira disse:

      Realmente também nunca vi graça nessa temporada de 2004 também, cadê o motivo pra esse povo sair “enaltecendo” tanto essa temporada? nunca entendi.
      Não sei, e até hoje nunca encontrei esse tesouro e nem tenho tanta curiosidade senão nenhuma pra ver essa temporada.

  8. Um Noveleiro disse:

    Eu fiquei tipo ????????? quando assisiti ao vivo a fala da Sula.

  9. Sandra disse:

    Acho ridículo uma novela que exerce grande influencia nos jovens dizer uma barbaridade dessas. Sem contar que estamos em pleno século 21, e que as pessoas deveriam aprender que aparência não forma caráter. E por falar nisso, o que virou essa malhação? Jacobina encheu de merchandagem social, colocou essa história do Matarrazzo com coração apaixonado transplantado. pelo menos tem bastante humor involuntário para nos divertimos.

  10. french414234 disse:

    Teve sim muito preconceito na frase, mais eu aposto que se fosse a joana que tivesse dito isso para o Gabriel nao teria esse mimimi todo

  11. Lord Siririrca disse:

    Acho legal como a sociedade está seguindo a cartilha SJW. A questão levantada não é ser gordo e sim os problemas que isso acarreta. Sobrepeso é relacionado a problemas de saúde ou por acaso a realidade é preconceituosa com os gordinhos. Aí vai me chegar um floquinho de neve fofinho e me dizer: ah, mas tem gente magra com problema de saúde. Sim, por isso é importante estar no peso ideal.

    • Mirtis disse:

      Tem vergonha não de vir com esse papo americano de direita? SJW? Floco de neve? Ô, Deus. Seus amigos de 4chan andam e cagam pro Brasil, coleguinha.

      • Alienista disse:

        Floquinho de neve ficou ofendidinho. Legal como o pensamento esquerdista impregnou de uma forma latente a cultura nacional onde problematizamos comportamentos de personagens fictícios e toda opinião contrária é rechaçada da forma mais superficial e infantil como o seu comentário.

  12. Lucas disse:

    Que engraçado que esses dias eu vi um meme de uma garota dando comida para o namorado engordar pra ninguém mais olhar pra ele só ela. E todo mundo da página achou engraçadinho e até marcaram os namorados. Qualquer forma de preconceito é horrível mais a hipocrisia é muito pior.

  13. Yuri Neves disse:

    Em 2017 e as pessoas ainda acham que ser gordo é um problema. Eu sou gordo e tenho uma saúde maravilhosa, muito melhor que a de muito magro por aí

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