Aguinaldo Silva continua tentando virar notícia e promete Nazaré trans em sua novela

José disse:

Se é pra citar conjunto da obra:

Glória Perez:

– Barriga de Aluguel, novela lindíssima, tocante
– De Corpo e Alma, outra grande novela com temas pertinentes mas que foi infelizmente marcada por uma tragédia nos bastidores
– Explode Coração, uma abordagem razoável dos ciganos e um marco no que se refere ao uso da internet na dramaturgia
– Carmem, uma novela ousada e diferente
– O Clone, uma grande obra prima da TV brasileira, onde tudo se encaixava harmonicamente
– América, uma novela bem chatinha e colcha de retalhos, com uma trama central chata, mas que chamou a atenção por suas tramas paralelas razoáveis
– Caminho das Índias, novela que começou a saturar as repetições de outras culturas com o mesmo fucking “amor proibido” de plano de fundo; o núcleo brasileiro tb era uma mistura de tudo que a gente já tinha visto antes, bem como o núcleo cômico. Agradou pelo tom popularesco mesmo (romance e drama fracos abraçados por dancinhas, bordões e personagens carismáticos)
– Salve Jorge, novela com um argumento ótimo, ousado e criativo, mas que foi trabalhado de maneira infeliz, com uma direção desastrosa e se tornou uma grande piada de mal-gosto, além dos erros execráveis nas inúmeras tramas secundárias. Por sorte, envelheceu bem no imaginário da população
– A Força do Querer, a grande redenção da Glória, um novelão como a década de 2010 ainda não havia visto, melhor obra da autora desde O Clone sem a menor sombra de dúvidas (com um respaldo ótimo da direção sempre impecável do Rogério Gomes)

Aguinaldo Silva:
– começou se escorando no sucesso de Roque Santeiro, trama que ele só pegou o bonde andando e até hoje se acha o criador (já criando inimizade com o Dias Gomes, de quem ele passou anos kibando)
– co-autoria de Vale Tudo… se não fosse o Gilberto Braga e a Leonor Bassères, teria sido uma farofa bem cafona, e ele só não se gaba mais do sucesso da novela porque o Gilberto está vivo pra desmentir
– Tieta… se escorou no Jorge Amado e no que aprendeu com o Dias Gomes. Pelo que pude perceber da reprise, é uma novela de esquetes, carregadas nas costas por personagens carismáticos em situações interessantes, mas não tem uma boa narrativa. Mérito dos atores fenomenais e da crítica à hipocrisia conservadora que era marca registrada do Jorge Amado
– Pedra Sobre Pedra, agora sem a crítica, tentou refazer o fenômeno de Tieta. Confesso que acho um Romeu e Julieta no sertão nordestino até que divertido, mas novela pra se ver uma vez só
– Fera Ferida, tentativa ainda mais fraca de recriar Tieta… novela chatinha, com enredo cansativo e desgastante
– A Indomada, mais uma vez desgastando o formato, sem um bom enredo, dessa vez encostando na Maria Altiva, uma nova Perpétua (e pobre Helena, em nada lembrava a Tieta)
– Suave Veneno, um desastre sem precedentes… ele deve a vida dele à Letícia Spiller, porque sem ela essa novela teria perdido até pro SBT na audiência
– Porto dos Milagres, a enjoativa cartada final dele até então de ainda beber o que sobrou do “realismo fantástico”… mais uma vez, no meio de tanta repetição, só o carisma da vilã de Cássia Kiss pra ajudar
– Senhora do Destino, um bom melodrama, mas com tramas secundárias horríveis e com a imagem extremamente saturada, marcada, desgastada, surrada… dá a impressão de que esse sucesso “modinha” da Nazaré é exagerado e subiu à cabeça dele
– Duas Caras, um lixo sem precedentes. Me recuso a acreditar que ele fez atores do quilate do José Wilker e do Antonio Fagundes pagarem aquele mico em rede nacional
– Fina Estampa, poderia ter sido a chance dele se redimir, mas… optou pelo escracho que já dominava suas tramas “urbanas” desde o texto patético da Maria Regina. Griselda e sua chave de grifo perseguindo a Jararaca do Nilo foi o fim da picada
– Império, mais um kibe de si próprio que terminou mal e que ele ainda ousa jogar a culpa da própria incompetência nas costas da pobre da Drica Moraes

Resumo: Glória Perez tem a sensibilidade de acompanhar as transformações do mundo, ela lê, ela se informa, ela assiste jornal, ela viaja, ela estuda, ela pesquisa… consegue com extrema delicadeza e sensibilidade dar espaço a temas que informam de maneira melodramática e romântica chagas sociais pouco debatidas. E SEMPRE consegue levar pras rodas familiares discussões antes inviabilizadas. Glória, pra idade dela, é uma autora moderna e inteligente, com bastante autocrítica e capacidade de reinvenção dentro das próprias repetições. Bebê de proveta, crianças desaparecidas, cultura islâmica, ciganismo, umbanda, sereísmo, jogatina, dependência química, transtornos psiquiátricos, transgênero, homofobia, deficiência visual, clonagem humana, tráfico de seres humanos, sistema de castas, MMA, baleia azul, cleptomania, pedofilia, imigração ilegal, cultura de rodeio, alcoolismo…

Aguinaldo: se escora no Dias Gomes, se escora no Gilberto Braga, se escora na Glória Perez, se escora no Jorge Amado, se escora no Walcyr Carrasco, fez trocentas novelas com dois colaboradores (ruins), apela pro popularesco, pro escrachado, pro texto cafona, pra um público sem pente fino em questão de qualidade, tenta reaproveitar tudo que ele vê os colegas fazendo que deu certo (surra de Celebridade, briga final de Dancin Days, lesbianismo, violência contra a mulher, beijo gay, até nome de vilã do Maneco kiba, etc), além das eternas auto-homenagens também conhecidas como falta de criatividade. Passou uma década tentando recriar Tieta, outra década tentando recriar Senhora do Destino, apela todo seu baixo nível e baixa capacidade de texto produtivo e interessante em falas absurdas de vilãs extremamente caricatas que tentam ser engraçadas e queridas a todo custo, que misturam psicopatia com carolismo com vulgaridade com futilidade… enfim. Não é o pior autor existente, mas é um tapete da Glória Perez e só pela pessoa nojenta que é, deveria ter muito mais humildade.