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Orgulho e Paixão foge dos estereótipos com a história de Luccino

Pense em uma novela de época. Agora pense nos personagens dessa novela de época. Uma mocinha. Uma vilã inescrupulosa vestida com roupas escuras pesadíssimas. Um núcleo um pouco mais rural. Uma dona de confeitaria ou de um café. Um tio rico dono de terras. Às vezes um bordel e as integrantes daquele bordel. Um mocinho geralmente rico. Uma fábrica. Um vilão inscrupuloso que quer acabar com o amor dessa mocinha. Um alfaiate. Às vezes um mordomo. Gente caindo no chiqueiro (se estivermos falando de uma novela do Walcyr).

Agora pense quantos personagens desses, nas novelas de época, são gays. Jamais alguém do núcleo mais rural. Nunca o vilão inscrupuloso. Nunca o simples funcionário de uma fábrica. Talvez o alfaiate. Ou o mordomo. Eles são um pouco espalhafatosos, às vezes estrangeiros, talvez franceses. Quando existem. Não é regra que existam personagens gays em novelas de época e, quando existem, as chances são grandes deles estarem servindo o chá ou costurando um vestido.

Não vamos entrar aqui em todo o mérito de quase todo o personagem gay na teledramaturgia acabar passando pelo estereótipo do gay espalhafatoso, ou pelo terrível fenômeno Crô, mas queremos falar um pouquinho sobre uma cena que vimos ontem em “Orgulho e Paixão”, novela das seis baseada na obra de Jane Austen que está no ar agora na Globo.

Para quem não acompanha, Luccino (Juliano Laham) é um moço que trabalha em uma oficina e conserta motos. Ele é um pouco tímido, distante e tem questões. Ele conhece Mariana (Chandelly Braz), uma mulher que quer andar de moto mas não pode porque bem, porque é mulher e estamos no começo do séc XX. É aí que ela, assim como a princesa Mulan, tem a ideia de se vestir de homem. Mas não pra lutar na guerra como a princesa da Disney, pra poder andar de moto em paz. Nesse meio tempo, existe uma vez que Luccino beija Mariana, enquanto ela está vestida de Mário. E é aí que começa a questão.

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No capítulo de ontem, Luccino teve uma epifania enquanto coronel Brandão (Malvino Salvador) confidenciava à ele que tinha se sentido estranho porque tinha beijado Mário. Ele não sabe que Mário é sua amada Mariana vestida de mulher, então fica com medo de ser gay. Luccino ouve a confissão um pouco desconfortável e depois acaba se dando conta do inevitável: ele mesmo é gay.

Quando Mariana, vestida de Mário, encontra o amigo na oficina para contar que beijou Brandão, ela o encontra um tanto cabisbaixo. E é aí que ele conta a verdade. Ele diz que nunca conseguiu dar vazão aos seus verdadeiros sentimentos, mas que ao ver Mário, e saber que na verdade ele era uma mulher vestida de homem, conseguiu, de certa forma, se permitir gostar de alguém. Nesse momento ele desabafa e tem o apoio da amiga, que diz que nada nele mudou mesmo depois de ele descobrir que sente atração mesmo por rapazes. A cena está aqui e você pode ver.

Por mais que a história toda seja um pouco rocambolesca (no mundo real Mário jamais convenceria como um rapaz), a cena de ontem na novela das seis mostra uma evolução. Luccino trabalha em uma oficina, conserta motos e, por ventura, é também gay. Não tem sotaque francês. Não é mordomo de uma pitonisa de Tebas. Não tem bordão nem gíria, e não é espalhafatoso. Ele é apenas um homem, que tem um trabalho, que tem amigos, que gosta de motocicletas e que, por ventura, é também gay. Assim como é na vida. Existem gays alfaiates e estilistas, e também franceses e espalhafatosos. Mas também existem gays trabalhando em oficinas. No mercado. Ali na esquina. No seu trabalho. De todos os tipos e jeitos. Pessoas comuns como eu e você.

Como Mariana disse à Luccino, depois que ele disse que gosta de rapazes, ele continuou sendo a mesma pessoa. Mais uma pessoa. Como todas as outras, e que por ventura é gay. “Orgulho e Paixão” tem lá alguns defeitos teledramaturgicos, mas traz evoluções interessantes. Uma mocinha tão a frente de seu tempo que quase parece anacrônica. E um personagem gay que conserta motos. Pode parecer pouco, mas é uma evolução.

Que bom que até as tramas de época estão nos permitindo evoluir.

Larissa Martins

Fala muita bobagem, escreve sobre quase qualquer coisa e sabe tudo sobre a temporada da vagabanda de malhação.

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4 Resultados

  1. Thiago disse:

    Gosto muito, o capitulo de hoje foi fenomenal com o musical com a Lídia e o tenente gago, apesar de houver uma barriga em maio e junho, alguns persoagens sem função como Jane, Jorge, Mariko… e Elizabeta numa moderninha dos dias de hoje

  2. Luiz Eduardo disse:

    GENTE , vcs mau postam mais ? !
    Amo o coisas de tv , vcs são incríveis , mas tô com saudadeee gente , tanta coisa acontecendo na dramaturgia ??!

  3. Luiz Eduardo disse:

    GENTE , vcs mau postam mais ? e quando aparecem vcs falam de coisas sem graça !
    Amo o coisas de tv , vcs são incríveis , mas tô com saudadeee gente , tanta coisa acontecendo na dramaturgia ??!

  4. Christian Mayck disse:

    Uma grande evoluçao otima historia do Marcos otima direção de Fred com algumas falhas e otima atuaçao do Juliano uma boa trama pra se acompanhar

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