CoisasCast #40 – Defendendo “Salve Jorge”

Biel disse:

Salve Jorge pisa sem dó na Avenida Lixão. Eu até tenho um textão na ponta da língua, mas dessa vez vou deixar quieto.

Salve Jorge é melhor que A Força do Querer também

José disse:

No meu ver, eles não estão aqui fazendo um mea-culpa ou elogiando as boas capacidades dramatúrgicas de Salve Jorge, mas sim ridicularizando a novela como sempre. Gostam sim, não sentiam raiva assistindo, mas só viam pra dar risada. Jamais fariam uma crítica a Avenida Brasil, e sim elogiariam ela como um novelão, cheio de ganchos bons, personagens bons, história boa blablabla e ignorariam os incontáveis defeitos grotescos de Avenida.

Salve Jorge era uma boa novela. O Fábio falou certo quando disse que o principal erro dela foi ter substituído Salve Jorge. É óbvio que algumas coisas ajudaram… nem acho que a ambientação na Turquia pesou tanto porque ninguém nem se importava com esses núcleos, eles mal apareciam… o que pesou foi o estilo Glória Perez de enrolar MUITO pra trama central se desenvolver + o excessivo número de personagens e núcleos muitas vezes desinteressantes. A novela deveria ter sido muito mais enxuta, a Morena deveria ter sido traficada logo na primeira semana, no máximo na segunda, aquele romancezinho chato dela com o Théo se mostrando um machista infantiloide que fazia a Érica de trouxa e tinha química zero com a Morena não sustentava a novela, e o núcleo de tráfico humano era muito secundário com a Jéssica. A Lívia mesmo não servia pra muita coisa. Esse mesmo erro já havia sido retratado em O Clone (quanto tempo até a criação do Léo e o surgimento da segunda fase?), América (a Sol tentou QUANTAS vezes ir para os Estados Unidos em idas e vindas com o namoro com o Tião antes de finalmente começar seus perrengues em Miami?), Caminho das Índias (antes da Maya se casar com o Raj grávida do Bahuan não acontecia absolutamente NADA na novela, nem na Índia nem no Brasil) e até mesmo em A Força do Querer, que foi maquiada pelo texto sutil, pelas atuações inspiradas e sobretudo pela direção caprichada do Papinha. A novela começou gostosa, a gente foi embarcando aos poucos nos dramas dos personagens, mas observem que agilidade não é o forte dela. Pouquíssima coisa aconteceu de março pra cá na transformação da Ivana, no caso da Irene e do Eugênio, no vício da Silvana, a Bibi ainda nem começou a se envolver com o crime, apenas é conivente com as malandragens do Rubinho, o quarteto Zeca-Ruy-Ritinha-Jeiza não sai do lugar, e o principal casal de heróis – Jeiza e Caio – ainda nem teve seu primeiro encontro. Mas isso não atrapalha nem um pouco o interesse do público pela novela, pelo contrário. A Glória encontrou o tom certo para direcionar seu enredo, ao contrário de Salve Jorge, que veio de uma novela em que no primeiro capítulo a vilã já foi desmascarada e causou a morte do marido, e na segunda semana já começou a saga de vingança da mocinha contra ela.

Apesar de seus pecados, Salve Jorge não foi um trambolho, uma trama verdadeiramente ruim e mal-costurada como Babilônia ou Em Família. Foi uma novela das 21h melodramática, gostosa de se acompanhar, e a partir de certo ponto do folhetim em que a Glória passou a focar na trama policial e passou a ignorar TODOS os personagens que não deram certo (só apareciam no vídeo o núcleo central + a família do Mustafá + Donelô e o ex-marido + a família da Delzuíte como alívio cômico), a audiência subiu e ela teve repercussão, ficou na boca do povo como QUALQUER novela das 21h até então. Não sofreu com a indiferença e o pouco-caso do público. E as pessoas comentavam a história, os personagens, não fatores externos (como Babilônia que só era lembrada pelas mudanças no roteiro pra salvar a novela dos Dez Mandamentos ou Velho Chico que só ganhou repercussão com a morte do protagonista na vida real).

Salve Jorge tinha uma trama boa, fez uma denúncia pertinente sobre um tema pouco comentado (como a Glória sempre faz… sempre com doses bem generosas de folhetim e licença poética, mas que não comprometem seu resultado final), tinha reviravoltas, cenas de ação, empoderamento feminino, personagens carismáticos e a gente torcia e vibrava ali por um final feliz para a Morena, pela destruição da quadrilha, para que a Helô conseguisse prender todo mundo. A novela ainda é lembrada e com bastante carinho pelas pessoas, só ficam nessa de falar que era ruim os escravos de números de audiência ou de senso comum.