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“Justiça” é uma daquelas séries que vale muito a pena assistir

Que “Justiça” é sucesso de público e crítica; que mudou o jeito com o o telespectador vê TV; que teve repercussão na internet e fora dela e que a produção foi uma das melhores coisas que a Globo apresentou nos últimos tempos, disso muita gente já falou. Tecer mil elogios a série escrita (brilhantemente) por Manuela Dias é um pouco chover no molhado. Uma breve passadinha nos balanços finais sobre a trama mostram que “Justiça” é uma dessas produções que são quase unanimidades. Um desses fenômenos que acontecem de tempos em tempos. Uma dessas histórias que tem poder de parar o telespectador. Que deixam a gente embasbacado e querendo um pouquinho mais depois que terminam.

Falando do que interessa: “Justiça” é uma daquelas séries que valem a pena assistir. Por mais que a gente esteja soterrado por séries na TV e em serviços de streaming é difícil encontrar uma produção assim. Dessas que te deixam ansioso pelo próximo capítulo. Que, se estivesse no Netflix, faria muita gente terminar a temporada toda em um dia, com intervalos esparsos pra ir ao banheiro, comer alguma coisa e comentar nas redes sociais. Em tempos de concorrência brava com a produção de conteúdo na internet, é muito importante que uma TV aberta mostre em sua programação uma produção ousada, que prenda o telespectador. “Justiça” teria todos os elementos pra brigar com todas essas “produções americanas” que quem vira a cara pra TV ama idolatrar.

Eu mesma perdi de ver a série na TV e recorri ao GloboPlay. Vi as duas semanas que tinha perdido em dois dias. Coisa que não acontecia desde que o Netflix disponibilizou todas as temporadas de “Gilmore Girls”. Repito: série que prende o telespectador não é coisa fácil de encontrar. Nem entre as produções internacionais.

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Dentre as qualidades da trama, é importante ressaltar algumas coisas. Primeiro, “Justiça” contava uma boa história. A mudança na ordem da narrativa é um recurso interessante, mas ficaria perdido se a trama não tivesse uma boa história pra contar. Arrisco dizer que, mesmo se as histórias fossem vistas de forma linear (uma por semana, por exemplo), ainda assim a série seria boa de ver. Segundo, o jeito como as histórias se interligavam foi feito de maneira muito inteligente pela autora. Cheguei a comentar em um texto passado que a série produzia spoilers dela mesma e, mesmo assim, não fazia com que o espectador perdesse a vontade de assistir. Pelo contrário, fazia com que o público conseguisse valorizar a história em detrimento do tão aclamado elemento-surpresa (saber como e porquê algo acontece na história é tão – ou mais! – importante do que saber que esse algo acontece).

Dentre as histórias se destacam com certeza a de Fátima (Adriana Esteves) em parte pelo incrível trabalho da atriz e em parte pelos ares de delicadeza que a trama foi tomando ao longos dos episódios. Débora (Luisa Arraes) também roubou a cena com sua angústia por ver seu algoz solto, fazendo com outras meninas o que tinha feito com ela. Destaque também para a incrível Leandra Leal na pele da debochada Kellen; Enrique Diaz fazendo um Douglas que aprendemos a perdoar; Antônio Calloni nos fazendo ter ânsias de raiva ao ver ele na pele do asqueroso Antenor e, por fim, Drica Moraes brilhante na pele de um personagem que em nada fazia lembrar sua tão célebre Carolina, de “Verdades Secretas”. Jesuíta Barbosa e Camila Mardila também brilharam no episódio das segundas que, na minha opinião, foi o que mais ficou perdido em seus acontecimentos.

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A trama teve erros, claro. Muito se falou da estranha temporalidade do caso da eutanásia, mas vejo isso como um erro menor. Recurso narrativo pra que as histórias se interligassem, apesar de ter soado um pouco estranho. Dos erros, talvez o mais estranho tenha sido a morte rápida de Vicente (Jesuíta Barbosa) que, depois de ser deixado ao Deus-dará por Elisa (Debora Bloch), que não ligou pro socorro, morreu menos de um minuto depois da professora desligar o telefone. Pra ter parecido uma suposta vingança teria que ter havido ao menos uma passagem de tempo. Do jeito que ficou, temos a impressão que ele morreria de qualquer modo e Elisa não teve qualquer interferência. O sotaque flutuante de alguns atores também foi um ponto baixo. Nada que prejudicasse a série, mas causou estranheza.

Quanto aos desfechos, todos conseguiram transitar entre o coerente e o surpreendente. Regina (Camila Márdila) quer agora se vingar de Elisa: seria a vingança (ou a justiça) um processo que nunca tem fim?; Fátima termina feliz, ali, naquele momento. Ela é um dos poucos personagens entre todos que perdoa. Seria o perdão a solução menos dolorida – e traumática –  de todas?; Débora mata seu estuprador depois de ouvir que ele voltaria atrás dela se ela o entregasse pra polícia: isso é mesmo vingança? Não seria apenas justiça, sobrevivência?; Antenor é condenado pelo único crime que não cometeu (diretamente) e Maurício sente que cumpriu sua jornada, mas segue sem sua mulher: a justiça (ou a vingança) consegue curar esses vazios? Todas são peguntas que Manuela Dias nos deixa sem resposta. E é bom que algumas questões permaneçam assim, em aberto, às vezes até meio ilógicas porque a própria questão da minissérie – a Justiça –  parece ser uma questão sem muita resposta em si mesma. Afinal, o que é justiça? Será que a gente saberia responder?

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Eu não arrisco um palpite, mas gosto muito de todas as perguntas que a série nos trouxe até o seu final. “Justiça” pode ser analisada no viés de mil acertos dramatúrgicos, de narrativa, de direção e etc. Tem qualidades em todos os quesitos. Mas, no fim, é só uma dessas séries que não queremos parar de assistir. E é disso que gostamos. E gostamos mais ainda quando uma produção dessas aparece assim, na nossa TV aberta tão criticada em tempos de Netflix. “Justiça”  poderia ser tranquilamente uma série do Netflix. E das boas. Das melhores.

Que venham mais séries como essa.

Larissa Martins

Fala muita bobagem, escreve sobre quase qualquer coisa e sabe tudo sobre a temporada da vagabanda de malhação.

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2 Resultados

  1. Chris Freires disse:

    Justiça sem a menor sombras de dúvidas foi uma das melhores produções da Rede Globo em anos,a inovação de trazer as mesmas cenas gravadas em vários ângulos diferentes foi um sucesso por si só,nas redes sociais o público comentava isso tanto quanto sobre a própria série que caí entre nós … Foi muito bem feita,apesar de uma ou outra falha que eu chego a desconsiderar mediante a tantas qualidades. A história de Segunda-Feira foi a que mais me chocou de imediato,a cena da Isabela sendo assassinada por Vicente foi muito forte,a Elisa impotente diante do ocorrido foi de partir o coração,aliás,apesar das críticas em cima dela,Marina Ruyva Barbosa não fez feio não,mas o destaque sem dúvidas vai pro Jesuíta Barbosa,em muitos momentos da série cheguei a criar compaixão pelo o personagem e muito pela interpretação dele. A história de Terça-Feira (na minha opinião a melhor) foi linda,Fátima uma mulher honesta que não foi corrompida pelas as injustiças da vida,foi capaz de perdoar e teve seu merecido final feliz,era tão bom torcer por ela toda semana,Enrique Diaz foi outro que interpretou brilhantemente e fez com que o público o perdoasse também,além de ter trazido Kellen que era sensacional HAHAHA ela é aquela vilã com alívio cômico que o brasileiro ADORA! (QUERO LEANDRA LEAL FAZENDO MAIS VILÃS,CHEGA DE SONGAMONGAS) e Adriana Esteves RAINHA! A história de Quinta achei um tapa na cara da sociedade,tratou da discriminação racial além do estupro e machismo,mas eis uma falha que me incomodou um pouco,Débora não devia ter virado a protagonista da trama,Rose sofreu igual uma condenada e a amiga que leva o título de principal e sofrida? Não curti muito isso não,não criei afeição por Débora mas me sensibilizei com a história dela como mulher,foi um tema importante,dou destaque pra Jéssica Ellen e Luísa Arraes. A história de Sexta era um resumo de todas as outras + uma história adicional E Drica Moraes foi sensacionaaaal,não tenho nem palavras pra elogia-la e até mesmo Cauã saiu de sua zona de conforto. E a trilha sonora foi um show aparte,fazia toda a diferença nas cenas! Justiça tratou de um tema jurídico focando na vida de quem vai para trás das grades e não na pura Constituição,deu destaque para o que é considerado estatista na vida real.

  2. Iara disse:

    Gostei muito da série. Queria que tivesse uma discussão jurídica que não ficou nem como plano de fundo, mas nem foi a intenção da Manuela Dias (como a própria comentou em entrevista). Mas botaria muita gente para pensar mais um pouquinho na briga do Senso Comum X Direito Penal.
    Anyway, foi uma proposta que deu gosto de ver. Meus pais que representam a FTB e meio que o telespectador médio não perderam nenhum episódio. Eles tb reclamaram da Rose ter ficado totalmente de lado (mais um lugar que a discussão jurídico-penal cabia). E nunca vou esquecer uma frase que minha mãe disse sobre a série: que o mais interessante era que parecia contar histórias de pessoas reais, que vc poderia conhecer, “pra ver como a realidade é triste”.

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