FINAL-APOCALIPSE

“Apocalipse” chega ao final como começou: um banho de constrangimento

Após uma série de novelas bíblicas de menos sucesso que “Os Dez Mandamentos“, a Record convocou a mesma autora Vívian de Oliveira da trama de Moisés e entregou um projeto ambicioso: uma releitura da novela “Apocalipse“. O livro da Bíblia que atrai até mesmo a galera não cristã se refere a uma descrição detalhada sobre como o mundo vai acabar, então parece um prato cheio para a dramaturgia baseada em efeitos especiais da Record. Infelizmente não foi isso que vimos.

Ambientar a novela no presente foi um erro de proporções colossais. Os ensinamentos bíblicos se encaixavam até bem naquelas novelas que tinham tom de teatro de quinta série, mas ficaram parecendo programas religiosos de horário comprado. Várias cenas completamente sem qualquer emoção ou carga dramática trazia personagens declamando palavras de salvação com a mesma entonação da mulher do mercado anunciando no microfone que uma criança está perdida.

A história parecia ambiciosa demais para o padrão de novelas da Record… talvez até mesmo uma Globo não conseguiria fazer algo assim sem soar uma esquete do Zorra. A Record gastou litros e mais litros de dinheiro para fazer efeitos especiais, mas se esqueceu de prestar atenção no roteiro da novela. Não que Vívian de Oliveira seja uma autora ruim, mas estou falando da interferência da própria Igreja Universal do Reino de Deus na novela: Cristiane Cardoso, nada menos que a filha do Sr. Edir Macedo, começou a palpitar na história e escrever coisas sem o conhecimento da autora da novela. Colunistas da época disseram até que foi uma surpresa para Vivian ver que sua novela tinha narração do Anticristo (Sérgio Marone), pois ela não havia escrito nada daquilo.

Aliás, gostaria de falar um pouquinho deste que pode ser considerado o pior ator da novela. Sérgio Marone é um ator com muitas limitações artísticas (vide seu Ramsés que demonstrava vilania fazendo uma cara de intestino preso), mas foi em “Apocalipse” que vimos o quão longe ele pode chegar na escala de ruindade. Para um vilão repleto de carisma, a Record convocou justamente o mais próximo do Cigano Ígor que tinha em seu cast, e a cada reviravolta de seu personagem ele ficava pior.

APOCALIPSE-MARONE-ANTICRISTO

Se “Apocalipse” parecia difícil de entender no primeiro capítulo, lá pela metade ganhou ares de paródia de filme de Michael Bay: um dia liguei a TV e estava lá Sérgio Marone comandando um exército de robôs numa invasão alienígena a Jerusalém. Quer dizer, faltou o quesito “bons efeitos especiais” para ser um filme do Michael Bay, estava mais para uma releitura dos Cavaleiros do Futuro de Bambuluá com muito Chroma Key.

“Apocalipse” vai tarde e a despedida só deixa claro isso: enquanto “Os Dez Mandamentos” incomodava a Globo, o final dessa novela não chegou nem perto de arranhar a novelinha infantil do SBT.

Fábio Garcia

Nunca tive a chance de falar "como vai, Galisteu?".

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9 Resultados

  1. A única coisa pior que a novela foi o cara dizendo que ambientar “Apocalipse” no presente foi um erro… 🤣🤣
    Já imaginaram ambientar um filme sobre o futuro em 1910??
    Senhor!!

  2. tomb disse:

    Minha MÃE assistiu e olha ela que assiste cada porcaria mexicana , também não achou essas coisas. Sergio Marrone deixou preocupado o Anti Cristo, porque olha… se o anticristo tiver esse nivel de atuação nenhuma alma vai pro lado do capeta.

  3. Paulo disse:

    novela é novela, sempre será novela. Assisti ao primeiro capítulo, porque sou noveleiro de carteirinha, e logo aí, no primeiro capítulo teve uma clonagem de cena de um filme, onde a onda leva pessoa próximas a piscina. Cade a criatividade? Eu vi a mesma cena do filme! E nesse mesmo capítulo, ele inventam um igreja, com a cara da católica, onde até as vestimentas são iguais. Como se a IURD fosse o quê. Se era para seguir a bíblia, teria que pelo menos tocar nos nomes das igrejas Evangélicas e Protestantes, que não foram deixadas por Cristo através de Pedro. Quer maior falso profeta do o fundador da IURD? Em nenhum momento sua igreja e seu nome foi citado, mas as imagens retratando a Católica foi e descaradamente. Se queriam produzir algo tirado da bíblia, mostra a verdade, e não criasse mentira. Se o nosso país a maioria é católica, e besta da Record Tv, só fez afastar que era da igreja besta como foi dito na novela deles. Pois evangélicos, que eu saiba, não assistem tv, muito menos novelas. Ou eu fiquei louco? Quer produzir dramaturgia, produza, mas não mexa com a religião dos outros que acreditam no que vê e sentem, por mais que seja errado, pois eu também acho errado alguém que se diz ter fé, fala da palavra de Deus, e é a favor do aborto, fala de dinheiro em cultos como se Jesus, em algum momento de sua passagem bíblica falasse para as multidões que o seguiu na terra. A novela do Edir Macedo que a mim, até a cara dele, trás uma negatividade, lembra muitas vezes, a face da própria besta retratada por muitos pintores, faz mal assim como as mentiras introduzidas na sua novela apocalíptica. Ah, fora que a maioria dos atores da navela, não acreditam nem mesmo na existência de Deus. Se não acreditam, como representar a fé verdadeira para quem se colocou a assistir? Eu assistir várias vezes, mas parecia que eu estava vendo algo que não vinha literalmente da bíblia.

  4. Daniel Gonçalves disse:

    A Novela teve falhas? Sim, e foram MUITAS, sobretudo em sua reta final, mas não chega nem um pouco perto da ruindade monstro que foi “O outro lado do paraíso” ou a novela das nove com consistência zero que a maioria do público está assistindo agora. Mas isso o Fábio Garcia, entre um discurso SJW e outro, jamais admitiria. O desprezo pela temática e o que a novela representa é nítido em cada palavra deste texto, além de apenas ser uma versão menos sutil do texto do Nilson Xavier, me fazem concluir que esse não deveria nem existir: A novela não teve sucesso, nem repercussão e diferente do que a nossa geração mimizenta pensa, não foi sequer ofensiva de verdade, apenas deu uma opinião diferente. Mas a necessidade de chutar cachorro morto vence tudo, não é mesmo?

    Na minha opinião, o problema raiz de “Apocalipse”, que tornaria tal novela um fracasso em qualquer cenário possível, é que Apocalipse é melancólica, muito melancólica mesmo. Da abertura triste e soturna até o conteúdo (sobre o fim do mundo), nada nunca poderia ser alegre ou jovial para agradar o grande público, sobretudo numa sociedade hipócrita como a nossa que assiste o sangue escorrendo na tela durante horas (na Record, inclusive) desde que seja de maneira “alegre e descontraída”, uma sociedade que considera a tristeza e a resignação “not cool”. De qualquer forma, os altos executivos da Record que nunca entenderam nada de novela, resolveram apostar na empreitada, a despeito dos vários exemplos de novelas soturnas que fracassaram amargamente ou, pelo menos, que só subiram quando decidiram se tornar mais leves como “O Dono do Mundo”, “A Favorita” ou “Torre de Babel”. E diferente dessas novelas que são produções originais, a novela precisava seguir a história da bíblia, ou seja, nada de mudar a direção da novela.

    Então, ideia feita, colocaram a Vivian de Oliveira para escrever (nunca acreditei que fosse ideia dela, pra começar), mas eu pensei, antes da novela começar: Como fariam isso? Por “Apocalipse” ser um capítulo muito mais subjetivo do que qualquer outra história bíblica, ela poderia ser escrito de diversas formas. Não sei se alguém aqui sabe, mas existem pelo menos cinco interpretações diferentes do Apocalipse. E a Vivian me escolhe a mais óbvia delas e paradoxalmente a mais difícil de agradar, justamente por tocar em pontos-chave que resultariam na polêmica. A passagem que fala sobre “A mulher vestida de dourado e púrpura” como um símbolo de prostituição, engano e corrupção é a maior delas, já que fortemente aponta para a igreja católica, que, embora factualmente responsável por séculos de destruição, massacre e intolerância religiosa, ainda é maioria no Brasil e muitos de seus membros não gostam de ser lembrados dos pecados de sua igreja. Dava para desviar da polêmica? Dava. Era só ter jogado fora a ideia da igreja fictícia, estabelecido que a ascensão advém de um setor corrupto da igreja católica e paralelamente mostrasse o outro lado, uma boa igreja. Dessa forma afastava qualquer acusação de intolerância religiosa, considerando que corrupção existe em todo lugar, não dá para discutir com esse argumento. Mas Vívian não fez nada disso: Fez uma igreja CTRL C +CTRL V da igreja católica com uma coisinha ou outra de gnosticismo (que ninguém ia pegar já que ninguém conhece essa religião) e cruza os dedos pra ver se ninguém nota. Sério mesmo? Devo ser a única pessoa nesse planeta que acha que a autora Vívian de Oliveira TEVE SUA PARCELA DE CULPA SIM no desenrolar que resultou na polêmica e consequente queda de audiência da novela “Apocalipse”, nem que seja só por conivência. E não para por aí: Quem poderia ter “obrigado” a Vívian a escrever as três fases da novela apenas que mostrar uma origem do Anticristo? Era muito mais fácil ter escrito só duas fases, onde a primeira seria curta (tipo uns três capítulos) e o resto com o elenco definitivo. Múltiplas fases em novela só funcionam quando há uma razão forte para fazê-lo, o que não era tanto o caso de Apocalipse.

    Contudo, a ironia disso tudo é que apesar de falhas de estrutura e de reflexão, foi aqui que Vívian provou ser uma boa escritora: Personagens dúbios com personalidades sólidas e, no caso de alguns, com desenvolvimento surpreendentes. Algumas pessoas consideradas boas se mostraram frágeis ou corruptas a partir do arrebatamento e algumas das pessoas mais mau-caráter se regeneraram. Isso, quando comparados com o festival de obviedade e diálogos rasos de “O Outro Lado do Paraíso” chegava a ser um bálsamo.

    Porém, devo concordar que as interferências externas de fato foram cruciais para piorar a situação de uma novela que já tinha muita coisa contra, já mencionadas no texto e na respeitável análise de Ricardo Becker Maçaneiro. Já era ruim (embora aceitável) reduzir toda a complexidade dos dias de hoje em duas meras frentes (cristãos e não cristãos) mas os responsáveis pelas mudanças pioraram muito ao introduzir diálogos exprimindo que só o evangelismo é uma religião verdadeiramente cristã e que todas as outras foram sutilmente manipuladas pelo demônio, além de arruinar, apenas com cenas em off, todas as construções feitas pela autora como “…quase 1700 anos espalhando trevas pelo mundo.” demolirem a pouca credibilidade que a ideia, reiterando, ruim de criar uma religião fictícia tinha.

    No entanto, foi com o desenrolar da trama que percebi o quanto Vívian de Oliveira é potencialmente boa escritora. Tramas bem alinhavadas, bons desenvolvimento de personagens e equilíbrio entre os núcleos mesmo com a auto-sabotagem da Record em evangelizar todos os núcleos (a despeito de também condenar coisas que muita gente faz e que todas elas sabem que é errado, independente da crença), o que bate de frente com qualquer novela das nove com assuntos mal discutidos e palavras que todo mundo quer ouvir e sem nenhum contra-argumento ou aprofundamento da questão. Ruim mesmo a novela começou a ficar na metade final, quando tudo começou a virar um banho de sangue sem sentido e sem sentimento (mesmo os não tocados pela marca), os personagens adquiriam uma personalidade unilateral e os acontecimentos foram se acumulando de forma desorganizada. Se esse erros aconteceram até com produções como Lost e Games of Thrones (em menor escala, obviamente), onde existe um verdadeiro dream team de roteiristas e produtores, imagine com Apocalipse onde só a Vivian de Oliveira parecia saber o que estava fazendo. Considerando tudo, pra mim, a Vívian fez um verdadeiro milagre e merece ser respeitada como escritora e espero que, no futuro, ela tenha melhores oportunidades. E espero que o seu projeto das doze tribos de Israel estilo Games of Thrones saia do papel. Novela de tempo da bíblia e absolutamente original e com apenas com citações originais da bíblia, é tudo que ela precisa para fazer sucesso e se realizar como escritora.

    PS: E não assistam Lia, a minissérie a toque de caixa da Record. É como assistir a versão bíblica de Malévola de tão ruim que é!

  5. Rafaela disse:

    Eu não vi nenhum capítulo dessa novela, mas parabéns pela crítica, Fábio. Muito bem escrita.

  6. Ricardo Becker Maçaneiro disse:

    Eu acompanhei a novela desde o primeiríssimo confuso capítulo. Lá no começo, nas primeiras fases parecia que seria uma grande novela, e os efeitos especiais eram até bons. Aí veio a terceira fase e a trama demorou 2 meses para começar a andar (foi aí que a novela desceu de 12 pontos para, quando muito, 9). O texto da Vivian lá no começo era muito bom e trabalhava com certa dubiedade em personagens importantes (o sacerdote Stefano, a rigor, estava sendo enganado pelo Anticristo e parecia mais dúbio do que mal, assim como Débora e até Cesar), o que deve ter desagradado o pessoal da IURD que inventou a narração do Anticristo e colocou em cima, causando um certo desajuste, forçando o público a ver maldade na dubiedade.
    No terceiro mês, quando aconteceu o arrabatamento parecia que a trama ia andar, com o desaparecimento do núcleo chato-pregador da família Santero, mas ,não, ainda ficou andando em círculos. Finalmente no quarto mês (aleluia) quando Zoe foi dada por morta a Benjamim se converteu (Oh glória) a trama andou.
    Andou, mas foi ladeira abaixo, com a concentração na pregação religiosa e aprofundamento do maniqueísmo, atingiu proporções apocalípticas após a morte-e-falsa-ressurreição de ricardo/Anticristo, que culminou na perseguição dos cristãos que se arrastou pelos meses seguintes até encerrar a novela num banho se sangue concentrado (e exagerado) que concluiu a novela não num tom esperançoso, como era de se esperar, mas, melancólico.
    De fato foi desastre apocalíptico, mas mais pelo que a Record impôs do que pela vontade da autora.
    Obs: Se a canastrice de Sérgio Marone atingiu patamares armagedônicos , por outro lado Igor Rickli e Juliana Knust souberam trabalhar muito bem Benjamim e Zoe, que, como mocinhos, tinham tudo pra cair na cafonice, mas, ao contrário, souberam conduzir muito bem os personagens cheios de camadas, o que fez o pequeno público torcer pelos protagonistas (até quando declamavam texto bíblico em forma de jogral).

  7. Zaratrusa disse:

    Olha, uma coisa que muito me incomodou foi o colunista Nilson Xavier analisando a novela só pelos números do ibope, isso porque nem ele assistiu e ficou pela vontade do público. Muita gente gostou da novela, ela teve o mérito de trazer muita gente da Globo, mas ficou só nisso mesmo, depois começou a virar pregação e se perdeu na própria história, e nem divulgada foi, porque eu nem sabia que ia acabar ontem!!

    • Laila disse:

      O Fábio também não assistiu e só focou em números de ibope pra analisar. Ele também baba ovo do Nilson. Falar que o Marone é ruim é coisa do tipo que nem precisa assistir a novela pra saber, sempre péssimo. E comparar qualquer coisa ruim com filme do Bay é clickbait pra passar de engraçadão da turma e fingir que tem conhecimento na área cinematográfica rs

      • Zeca Caminhão disse:

        Criticú de novela é o que temos por aqui. Ninguém assiste outras novelas que não sejam do eixo Global. Seria melhor nem fazer um artigo vergonhoso dele.

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