Crítica meio tardia: “Mr. Brau” é uma das melhores séries da TV aberta

Se você acompanha a gente há algum tempo, sabe que a gente não é muito de falar de série aqui no site. No começo era porque a gente tinha que se ater mais às pautas pré-definidas, e depois foi porque nada nos chamou muito a atenção. Eu, particularmente, sou uma pessoa que não curte muito séries. Mesmo as nacionais. Dá pra contar nos dedos aquelas que eu acompanhei do começo ao fim. Tendo a gostar muito de todas as séries (ou seriados, se você preferir esse nome) escritas pela Fernanda Young e pelo Alexandre Machado, mas a última que devo ter realmente acompanhado foi “O Sistema”, que é velhíssima.

Fora isso, me apaixonei perdidamente por “Doce de Mãe”, exibida em 2014, e que tinha texto do Jorge Furtado, que fez mil coisas que gosto, incluindo filmes. Foi justamente por conta do texto do Jorge Furtado que me animei em assistir “Mr. Brau”, mas aí esbarrávamos num problema: a série passava de terça, mesmo horário da “MasterChef” que teve por um bom tempo cobertura fixa no site. Sei que existe GloboPlay, mas no meio de mil coisas pra fazer sempre acabava esquecendo de ver.

Mas aí veio essa temporada horrível atual do “MasterChef”, desencanamos de ver (eu pelo menos passo bem longe) e deu pra assistir com mais afinco a “Mr. Brau”. E aí que veio a grata surpresa: a série é ótima. Já tinha visto alguns episódios perdidos da primeira temporada e sempre achei que Lázaro Ramos e Taís estão ótimos nos papéis, fora o outro casal formado pela Fernanda Freitas e pelo George Sauma que também são espetaculares, mas o lance é que a série como um todo é muito boa.

Tanto o texto é muito bem escrito, quanto os assuntos são tratados com um humor e uma delicadeza que deixam tudo muito gostoso de assistir. “Mr. Brau” toca em muitas feridas como racismo, desigualdade social, preconceito entre outros mil assuntos de um jeito muito inteligente. O que dizer do episódio em que a Michelle e o Brau vão se hospedar em um hotel que conseguiram através de publipost e dão de cara com quartos decorados com quadros de Debret que mostram escravos sendo torturados? Toda a discussão em volta do assunto foi muito bem feita e mesmo falando de um assunto pesado a série consegue ter auxílios cômicos muito interessantes que fazem com que os temas consigam ser mostrados sem ficar com aquele tom professoral.

Outra grata surpresa foi o último episódio da temporada, exibido na terça (02). A história gira em torno de três crianças negras que entram na casa dos vizinhos da família Brau pra buscar uma bola e são confundidos com ladrões. Ao ver a confusão, Michelle e Brau resolvem socorrer as crianças dizendo que eles são “apenas crianças” e ali se cria uma amizade que passa por vários assuntos como abandono, desigualdade social, preconceito, entre outros tópicos. Tudo sendo abordado de uma maneira leve e com zero cara de merchan social e tudo ainda com muito humor e diálogos afiadíssimos. Um ótimo desfecho pra uma temporada que foi boa do começo ao fim.

A série num geral é muito boa. O texto é ótimo, o elenco todo é muito bem entrosado, os musicais são muito bem produzidos e todos os episódios tem sacadas ótimas. A própria carreira solo da Michelle que foi se construindo aos poucos mesmo foi uma trama super interessante que passou por assuntos importantes como preconceito e machismo, por exemplo.  E ainda tratando de tantos tópicos delicados, “Mr.Brau” faz isso tão bem que não desvia nem um pouco daquilo que é a primeira proposta de uma série sempre: nos entreter.

Sei que tem muita gente que olha de cara feia pras séries nacionais, mesmo quando são da Globo, mas se tem uma que vale muito a pena dar uma chance é “Mr.Brau”. Eu acho que vocês não vão se arrepender.