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Dia da mulher: por mais mulheres fortes (e reais!) na teledramaturgia

A gente que é mulher sabe que dia da mulher costuma ser um dia difícil pra gente. Primeiro porque quase ninguém (empresas, marcas, pessoas) sabem se portar direito e sempre acabam fazendo uma coisinha ou outra que acabam nos deixando meio descrentes; e segundo que é sempre um pouco aquela papagaiada de “parabéns mulher”, flores e chocolates (nada contra flores e chocolates, inclusive mandem) e muita gente acaba esquecendo que ser mulher nesse mundo não é fácil e que ainda temos um longo caminho a seguir pra verdadeiramente podermos ser o que a gente quiser.

O fato de que ser mulher não é nada fácil acaba se refletindo em diversos setores da sociedade. Ganhamos menos que os homens, temos mais medo de andar na rua de noite sozinhas, demoramos mais pra adquirir direitos básicos e tudo isso que vocês já sabem bem. Tanto é difícil e ainda temos que lidar com vários preconceitos e estereótipos que acabam, claro que sim, sendo refletidos na teledramaturgia. E como somos um site de TV, é disso que vamos falar aqui.

Se você acompanha a gente há bastante tempo, sabe que a gente adora gongar uma boa songamonga aqui. Aquela mocinha sonhadora que faz tudo pelo bem de todoZzzzzzz é o tipo de personagem que tende a nos irritar mais. Em parte é porque bem, mocinhas são chatas mesmo. Mas por outro lado, as mocinhas nos incomodam porque elas perpetuam um estereótipo ruim: aquele de que a mulher é sempre frágil, sempre boba, sempre só quer saber de lutar por amor & família e só vai ser feliz o dia que entrar de branco na igreja com todo o elenco da trama reunido.

Podíamos ir beeem longe nesses exemplos, mas vamos nos ater a falar das novelas que estão atualmente no ar (e vamos falar de Globo pra não alongar demais o assunto), ok? Das quatro novelas que estão no ar na maior emissora do país, só uma mocinhas não atende ao estereótipo de mocinha-sonhadora-que-quer-casar-ter-família. Joana (Aline Dias) de “Malhação”. Joana até é meio boba, mas luta pelo que quer, dá de dedo na cara de quem precisa e, bem, a menina lidou com padastro violento sem se abalar e se enfiou num ônibus lá do Ceará até o Rio de Janeiro pra se virar sozinha. Só isso já é bastante coisa.

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Júlia de “Rock Story” até é uma pessoa que não odiamos por completo já que ela se escondeu da polícia enquanto trama um plano de vingança contra o ex-namorado pilantra-traficante, mas com ela a gente já fica meio assim porque bem, ela se enfiou numa esparrela porque nem por um instante desconfiou que o namorado queria enrolar ela, porque bem, mulheres são “assim mesmo”, “se apaixonam e ficam cegas”.

Já Helô (Cláudia Abreu) até começou bem menina que tem que lutar pra sustentar a família, mas acabou quase que cagando a vida toda por conta de amor. Ela podia ser mostrada como a bem sucedida galerista que conseguiu subir na vida, criar os filhos e etc, mas foi mostrada como quem? Uma mulher que apesar de ter um imenso potencial aceita ser subjulgada pelo marido demônio porque precisa preservar a família. Ela só sai desse calvário quando reencontra seu verdadeiro amor – porque só dá pra sair de um casamento pra ir pra outro casamento – e agora vemos Helô como uma pessoa que o único objetivo de vida é cuidar pra que o marido não a traia com a ex e pra que ela consiga ter um filho desse marido pra que sua vida seja completa. Nada contra filhos, maridos, família. Mas mostrar as personagens como tendo esse como único objetivo é, no mínimo, controverso.

Em “Sol Nascente” Alice (Giovanna Antonelli) parece não ter outra função que não ser enganada por César (Rafael Cardoso), não conseguir cuidar direito dos negócios sem ser enganada por César, ir parar na cadeia porque acreditou demais em César e sua única redenção vai ser terminar com Mário (Bruno Gagliasso), que é o grande amor de sua vida desde a infância.

Ou seja, das quatro novelas que temos no ar, apenas uma protagonista é mostrada como uma mulher de fato dona de sua vida, mas mesmo assim ainda tem umas cagadas grandes tipo aquela cena lá em que o namorado dela pede pra ela ficar gorda; todo o lance errado da abordagem do assédio e, por fim, o fato de Giovanni ser um doido ciumento que às vezes não deixa Joana trabalhar e mesmo assim ela achar que tá tudo bem, tá ok, o Giovanni é “ciumento mesmo”.

O que a gente fica pensando é até quando esse vai ser o jeito que a mulher vai ser retratada na teledramaturgia. A gente ainda agradece muito porque tem uma exceções, já tivemos mulheres porretas (ano passado fizemos uma lista), mas a grande maioria das protagonistas são sempre essas mulheres frágeis, sem vida própria, que são facilmente enganadas e que somente por amor põe a mão no fogo da paixão  e deixam se queimar etc.

Será que não dava pra deixar de transformar as mocinhas nessas meninas que só pensam em encontrar um amor e casar? Será que não dá pra mostrar mais? Mulheres que ok, se apaixonam e querem viver um amor, mas que não vivem SÓ pra isso. Mulheres que também tem vida, trabalho, são independentes, etc. Um bom exemplo mais vívido é a Penha (Taís Araújo) de “Cheias de Charme”. Apesar de ser apaixonada por Sandro (Marcos Palmeira) que é um encostado, Penha batalha, tem outras questões, se preocupa com ela mesma, com as amigas, com sua carreira e ainda assim é uma mãe dedicada e ama e sofre e tal. Ela é uma mocinha que funciona melhor porque é mais real. É boa mas também sofre, também fica brava, também tem dia ruim no trabalho, também tem que lidar com mil outras coisas além do marido.

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E são essas mulheres reais que queremos ver. Uma mocinha como Lívia (Alinne Moraes) de “Além do Tempo” que fica perdidamente apaixonada sim, mas também pega um cavalo e sai correndo, também é dona de sua própria vinícola e tem uma vida pra cuidar inspira muito mais do que a já tradicional personagem que não quer saber de mais nada além do amor, o amor, o amor. Mulheres mais reais inspiram outras mulheres. E a TV precisa também ser feita disso: de bons exemplos.

Nada contra o amor, inclusive queremos, mas tem muito nessa vida além do amor. Os boletos chegam aí todo fim de mês e ser mulher é bem mais do que ficar ali sentada esperando pra que o amor da sua vida te ache. Mulheres são plurais, tem várias histórias, várias vidas e a teledramaturgia tem um papel importante em mostrar que mulher pode ser sim o que ela quiser. Pode ser mocinha sonhadora. Mas não só. Tem muito mais. Queremos muito mais. Nas novelas e na vida.

Larissa Martins

Fala muita bobagem, escreve sobre quase qualquer coisa e sabe tudo sobre a temporada da vagabanda de malhação.

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4 Resultados

  1. Renan disse:

    O cúmulo foi Pedro trair Helô no dia internacional da mulher com a ex-namorada periguete e dar a explicação mais cara de pau possível: “Senti atração por ela mas é você que eu amo”.

  2. Jessica Oliveira disse:

    Se formos analizar melhor essas novelas que passam agora, concluiremos que de ~mulher real~ só tem a Penha mesmo: sim, vou incluir a reprise também pq
    a novela é maravilhosa portanto me deixem.
    E concordo plenamente na parte do texto que ta escrito ~mulheres reais na tv inspiram outras na vida real~ ou coisa assim.
    E a tv ta precisando mesmo ter mais bons exemplos.

  3. Chris Freires disse:

    Outra coisa que me irrita,se a mulher tem um pouco mais de personalidade e quer outra coisa que não seja um homem e filhos é considerada como vilã ou é marginalizada de alguma forma,sempre é vista como a errada. E a mocinha sempre vitimizada que é a sempre certa,é como se a novela tivesse nos impondo uma regra de como nós mulheres devemos ser para sermos consideradas boas para a sociedade e isso tem que mudar mesmo,porque o mundo e as pessoas mudaram,as novelas têm que acompanhar a evolução do seu público.

  4. Leila Mariana disse:

    Larissa @temquetamoleque o orgulho feminino! Mais digna que Fábio @fabiogaj.

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