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Estamos apreensivos com a personagem trans de “O Sétimo Guardião”

Tal qual belos rapazes tiram fotos sem camisa esperando biscoito, o autor de novela Aguinaldinho Silva tem alimentado os sites televisivos nos últimos anos (sim, ANOS) com notinhas tentando emplacar sua próxima novela das nove, “O Sétimo Guardião”. A novela que nem tinha data de estreia rendeu uma novela própria na imprensa: teve processo de ex-aluno, cancelamento, descancelamento, troca por outra novela que era a mesma coisa e a tentativa de re-emplacar a Nazaré Tedesco. Resolvido todos esses perrengues, agora temos uma nova preocupação sobre essa novela: vai ter personagem trans.

Mas Fábio, é ótimo termos personagens trans, mostra diversidade e desmistifica as coisas para o público” é o que algum leitor pode me falar, mas sinto avisar que a coisa não funciona muito bem desse jeito. O melhor personagens trans das novelas é Ivan (Carol Duarte) de “A Força do Querer“. Começou a novela como mulher, viu que não se encaixava e passou por todo um processo que comoveu o país ao mesmo tempo que educou muita gente. Sendo assim, por que devemos TEMER (o verbo, não o político) uma personagem assim na novela “O Sétimo Guardião”?

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Bem, vamos aos fatos. Segundo a jornalista televisiva Keila Jimenez, houve uma mudança no papel da personagem trans de “O Sétimo Guardião”: sai Renata Sorrah e entra a drag queen/atriz/ex-A-Fazenda/humorista Nany People. A personagem, ainda segundo a notícia, é uma transexual que nasceu como homem, se identifica com o gênero feminino e age como mulher. Entretanto, Marcos Paulo (como é chamado) não quer usar um nome feminino e muito menos ser considerada “discrimidada” e “coitadinha”.

Embora “O Sétimo Guardião” se trate de uma obra de realismo fantástico, ou seja, tem todo o tipo de coisa maluca e mágica acontecendo, o autor deveria tomar um pouco de cuidado com certos tipos de caracterizações de personagens. Mesmo com o Ivan na novela da Glorinha, a questão trans ainda é algo muito confuso para boa parte da população, e uma personagem assim apenas reforça os estereótipos que fazem com que esse tipo de população seja exterminada no Brasil antes de chegar aos 35 anos de idade.

Pior ainda: a característica da personagem lembra muito o posicionamento do próprio autor sobre o caso. Durante a exibição de “A Força do Querer” no ano passado, Aguinaldinho Silva chegou a postar em seu Twitter que não aguentava mais pessoas trans se fazendo de coitadinhas nas novelas e que preparava uma vilã trans em sua próxima trama, Nazaré Tedesco (spoiler aqui do futuro: a personagem foi cancelada depois de um pedido da própria Renata Sorrah). Será que veio daí a vontade de escrever uma personagem trans que não quer ser chamada de coitadinha?

O autor ainda publicou na época que “transexuais eram moda” e que ser trans “é fácil, todo mundo acha lindo”. Depois da repercussão negativa de tanto chorume, o autor apagou seus tweets e pediu desculpas. Por sorte a internet está aí para guardar rancor e prints:

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A questão é: como não ter medo de uma personagem trans escrita por um autor que tem clara dificuldade em entender a questão? A função do autor de novela não seria fazer pesquisa sobre o que escreve? Fica a pergunta no ar. Por enquanto ficamos apenas com medo da personagem trans acabar virando apenas chacota na novela como boa parte dos personagens homossexuais criados pelo autor nas últimas décadas.

Fábio Garcia

Nunca tive a chance de falar "como vai, Galisteu?".

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2 Resultados

  1. osnildo disse:

    eu estou apreensivo com a existência dessa novela, isso sim !

  2. Alan disse:

    Aguinaldo provoca meus risos cada vez mais com suas ideias e sim, essa ideia é para se rir e ter medo.
    Bom, agora é esperar a próxima notinha para rir mais uma vez…

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