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“Malhação – Viva a Diferença” ensina a temporada anterior como tratar de assédio

Quem acessou o Coisas de TV durante o ano passado testemunhou com os próprios olhos as nossas críticas à última temporada de “Malhação”, “Pro Dia Nascer Feliz”. Maniqueísta e infantil, a temporada escrita por Emanuel Jacobina tentou entrar em assuntos mais graves e espinhosos como racismo e assédio, mas acabou falhando miseravelmente. Num estilo meio “tapa aqui, descobre ali”, enquanto a novelinha tentava fazer o merchan social nosso de cada dia, acabava falhando em outros aspectos como o fatídico diálogo em que o namorado da protagonista Joana (Aline Dias) diz que ela devia ficar bem gorda pra ninguém mais olhar pra ela.

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Erros todo mundo comete, tem novela das nove por aí que também falha em fazer merchan social sem cair no caricato, mas “Malhação – Pro Dia Nascer Feliz” falhou onde não podia. Em uma novela jovem, que fala para um público jovem, a gente tem que tomar um pouco mais de cuidado ao tratar temas delicados como racismo ou assédio. Se não trata com cuidado, acaba virando desserviço. E foi exatamente isso que aconteceu na temporada anterior da novelinha. O que era pra sevir como alerta, virou desserviço.

Se você não lembra, a gente te refresca a memória. Em uma dada hora de “Malhação – Pro Dia Nascer Feliz”, as irmãs arquiinimigas Joana e Bárbara (Bárbara França) viraram modelos de uma campanha. Durante essa campanha, o agente de modelos começou a assediar Joana de maneira insistente. Joana percebe e dá um fora em Garcez enquanto Bárbara acaba dando uma brechinha pro cara porque quer ser uma modelo famosa. Tudo errado nisso aí, mas pra piorar o tal do Garcez cria uma armadilha pra assediar Bárbara e, depois que ela consegue se livrar do cara, ela e Joana se vingam dele com um BANHO DE TINTA. Escrevemos um texto bem completinho no ano passado apontando todos os erros dessa abordagem que você pode ler aqui.

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Mas, felizmente, por mais que cinco ou seis ativistas de twitter ainda insistam em falar que a televisão morreu e que as novelas da Globo só servem como um grande desserviço ao país, ainda há luz no fim do túnel. E é essa luz que podemos ver na abordagem da atual temporada de “Malhação”, “Viva a Diferença”, sobre um caso de assédio.

K1 (Talita Younan) é uma menina bastante extrovertida que um dia chega na escola bem cabisbaixa, usando roupas largas e chorando pelos cantos. Keyla (Gabriela Medvedovski) percebe que tem algo de estranho com a amiga e começa a tentar sondar o que tem de errado. K1 não quer assistir às aulas e passa o tempo em que fica na escola na biblioteca, além de mostrar uma certa resistência a voltar para a própria casa. Depois de dormir na casa de Keyla por uma noite, o namorado da mãe de K1 (que na verdade se chama Katarine) aparece para buscá-la, mas ela inventa uma desculpa para continuar dormindo na casa de Keyla. A menina consegue dobrar o namorado da mãe, mas Keyla percebe que algo de estranho está acontecendo na casa da amiga e força para que ela desabafe. Ela desabafa: o namorado da mãe tem dado em cima dela perto da própria casa e a situação está se tornando insustentável.

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Keyla força para que Katarine converse com a diretora da escola, Dóris, e em uma cena emocionante ela acaba desabafando. O namorado da mãe começou com algumas cantadas, que ela ignorou. Depois começou a presentea-la, e ela ignorou. Depois ele deu um biquini bem pequeno pra ela e diz que adoraria vê-la usando, ela jogou na cara dele. Por fim, um dia, ela estava tomando banho e ele abriu a cortina do box e ficou observando ela nua. Katarine conta toda cada nova investida do namorado da mãe num misto de pavor e culpa, chorando e dizendo que não fez nada, que a culpa não foi dela.

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A história de K1 mostra o que acontece com a maioria das vítimas de assédio e abuso: o assédio vem de alguém conhecido, dentro da própria casa; a vítima se sente culpada, e pensa que foi ela que deixou e acabou provocando o assédio; pela vergonha, a vítima tem medo de contar sobre o acontecido para as outras pessoas, e acaba se fechando.

Dóris, a diretora da escola, convence Katarine a procurar uma delegacia da mulher e denunciar o assédio. A cena do capítulo de ontem acabou ali, na delegacia onde a mãe de K1 e o namorado chegaram para prestar esclarecimentos. E é assim que um assunto sério como esse deve ser tratado. De forma real e com a seriedade que merece. Talita Younan tem interpretado com maestria a dor da personagem que não sabe o que fazer ao ser assediada dentro da própria casa, por alguém que sua mãe ama. A menina tem dúvidas, tem medo que alguém diga que a culpa foi dela, que foi por causa da roupa curta que ela usou ou do decote grande com o qual ela saiu. Katarine se comporta como uma verdadeira vítima de assédio. A novela mostra uma situação real de assédio, que nós mulheres já ouvimos e sofremos tantas vezes. E mais que isso, “Malhação”, mostra o modo certo de se lidar com a situação: procurando suporte, denunciando e não jogando uma lata de tinta em cima do assediador.

Que bom ver um programa pro público jovem tratando de assuntos importantes de maneira responsável. Nem só de rodada de suco vive “Malhação”.

Larissa Martins

Fala muita bobagem, escreve sobre quase qualquer coisa e sabe tudo sobre a temporada da vagabanda de malhação.

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34 Resultados

  1. Gênio 12 disse:

    Jacobina nunca fez algo que prestasse. Teledramaturgia tem que ter qualidade e um pé na realidade. Acho muito interessante alguns comentários afirmarem que, a realidade do que acontece no país é bonita e maravilhosa. Por favor, né? Esse discurso é típico de pessoas fracas que não aceitam assuntos mais séries abordados como tem que ser. E vem com essa de que a emissora é fechando com lacração. Dúvidas sobre a sexualidade sempre existiram. Não é um mérito do século 21 apenas. A temporada aborda de forma muito mais concisa e objetiva do que ficar focando apenas vários no casalzinho com problemas e interpretações surreais. Cada personagem ali cumpre bem a sua função. Eles têm mais carisma. Não fica uma coisa forçada na interpretação. Nunca gostei de Malhação desde sua estreia. Mas essa temporada atual, eu posso dizer que merece ser acompanhada. Espero que a próxima, seja mantida pelo menos uma boa direção e não retorne ao surrealismo alienador de massas, das temporadas anteriores a Viva a Diferença.

    • Flora disse:

      Temporada sem historia que fica atirando para todos os lados para dar audiência, simplesmente não merece ser chamada de fofletim

    • douglas disse:

      TUDO que é abordado nessa Malhação já foi abordado em temporadas anteriores, principalmente pelo próprio Jacobina. Mas vc deve ter no máximo uns 15 anos, então da pra perdoar a burrice.

  2. Rafa disse:

    Chocado com o teaser de Deus Salve o Rei, bem longe das comédia pastelão das novelas anteriores (Um Beijo Pega Pega e Haja Coração)

    Grita copia de Game of Thrones nos figurinos e visual da trama.

  3. douglas disse:

    Mais uma trama aleatória jogada só pra cumprir a cota do “vamos agradar o twitter”. Sim, abordar assédio é sempre bem vindo, mas com naturalidade o que nunca acontece nessa temporada. Todo momento telecurso soa forçado e claramente feito sob medida para agradar os lacradores, igual todos esses comerciais “conscientes” de marca de cerveja, desodorante e etc.

  4. Guilherme Themistcocles Azevedo Neto disse:

    Emanuel Jacobina pisado, novidade nenhuma. Autor superestimado que vem de duas temporadas ridículas. Sempre foi considerado foda por temporadas que ele não escrevia sozinho. Agora apareceu um autor que pisa nele em tudo. Parabéns Cao por retratar o jovem como ele é de verdade, sem filtros ou com as mesmas caras de meninos e meninas da Disney, adolescentes made in Projac.

    • douglas disse:

      Ta, não tem ninguém padrãozinho nessa Malhação não, magina kkkkk. O Deco então nossa, representa muito a figura do homem brasileiro. Por favor né….

  5. Biel disse:

    E chegamos à conclusão de que até hoje Malhação – Pro Dia Nascer Feliz rende mais assunto que Malhação – Viva a Diferença “risos´´

  6. French disse:

    CHEGA NÉ GENTE!! a abordagem foi legal e tal massssss… Já deu né, quantas vezes os autores panfletaram sobre esse assunto da última década para cá, acho que já deu e eu não estou falando só sobre assédio não, é sobre assédio, homofobia, racismo, machismo e tudo mais oque a galerinha do lacrou ama, mas que o público médio odeia, saudades de quando os autores apostavam em histórias originais e realmente criavam folhetim, e não um amontoado de assuntos batidos e clichês que não fazem ninguém parar na frente da televisão e dizer “caramba que coisa divertida e contagiante vou assistir todos os dias até o último capítulo” e o pior… Esse mal já contaminou até o horário nobre já que OLDP não passa de UM GRANDE MERCHANDISING SOCIAL mascarado de novelão clássico STOP REDE GLOBO

    • J.D. disse:

      Então você é a favor do assédio?

      • French disse:

        Não… eu sou a favor da teledramaturgia raiz, conhece ?

      • French disse:

        É por isso que eu sou completamente contra esse fase lacradora da Gobo, ela transforma pessoas de mente fraca como vc em verdadeiros zumbis lacradores alienados #deusnosdefederay

        • Chico disse:

          Mas são assuntos atuais, têm que serem retratados mesmo para deixar de ser tabu e virar um fato conhecido de todo os telespectadores. Não gosta? é só não assistir, quer novela raiz? vai assistir as novelas antigas que o viva reprisa. É bastante válido esses assuntos serem debatidos em obras abertas e de grande acesso ao público.

          • French disse:

            Amor… Esses assuntos são “atuais” desde que o mundo é mundo e novela é novela, os autores da Globo abordam assédio desde os anos 80 (Aguinaldo falou disso magistralmente em Tieta por exemplo) de uma forma bem folhetinesca e sem ser cansativo, esse assunto já não é tabu a muiiiiiiito tempo, zero necessidade de abordarem isso em toda santa novela só para lacrar um pouco (e ainda venderem isso como coisa atual e modernistaZzZzZ)

            Não tem essa de “é só não assistir” a Globo que tem que se adaptar a mim e não ao contrario (afinal oque seria dessas emissoras de tv sem o seu público médio não é mesmo)

          • Chico disse:

            “Desde que o mundo o mundo…” sim, mas nunca se falou tanto desses assuntos como hoje e enquanto existirem(nunca vão acabar) eles precisam serem debatidos e retratados e nem toda novela retrata isso da melhor maneira possível, os autores precisam acompanhar o público e é isso que eles estão fazendo. Talvez esses assuntos não sejam do seu interesse, mas eles estão aí no mundo todo e muitas pessoas passam por isso e fica por isso mesmo, como se fosse algo normal. É válido isso ser retratado, e tem sim essa de “é só não assistir” . Eu não gosto de Pega Pega, logo não assisto. Livre-arbítrio. Assiste quem quer.

          • French disse:

            Olha o problema mesmo é que hoje em dia os autores estão se esquecendo doque realmente é se criar uma historia original e repaginada, olha o caso de OLDP por exemplo 98% dos núcleos dessa novela abordam assuntos polêmicos e “atuais”. Onde esta a criatividade dos nossos autores ? Eles estão apostando em assuntos polêmicos só para mascarar a falta de história das suas novelas (saudades do Maneco falando sobre aborto em plenos anos noventa de forma coerente e respeitosa, não importava se você era a favor ou contra você simplesmente mergulhava na história) e quer saber o melhor de tudo NÃO ERA PANFLETAGEM o assunto em questão fazia parte da narrativa da trama,combinava com os personagens, era importante para a história e estava longe de ser cansativo ou desconfortável (diferente de hoje em dia onde apenas um ponto de vista é mostrado, o amiguinho do lado que pensa diferente de mim que se dane)

          • Enigman disse:

            E por que o amiguinho deveria pensar diferente em relação a assédio ser errado?

          • French disse:

            Você me entendeu !

      • J.D. disse:

        Não adianta me xingar de “mente fraca” e “zumbi lacrador alienado”, que eu sei muito bem o que é teledramaturgia raiz, inclusive adoro novelas antigas e pra sua informação, minha favorita é “A Gata Comeu”, que eu repito sempre.
        E tem mais, também não curto lacração, ao contrário de você, que se diz contra a lacração mas termina o comentário com “deus me defenderay”, outra gíria da galera da lacrolândia E sua tentativa de me ofender foi pro ralo, moleque mimizento. #ChoraMaisQueTáPouco

        • French disse:

          Eu achei que você era lacrador pelo seu exagero em dizer que eu sou a favor do assédio só porque eu sou contra a Globo abortar esse assunto em quase toda novela atualmente (malhação que o diga)

          PS: o “deus nos defenderay” foi justamente uma zoeira com os lacradores,

          • J.D. disse:

            Sim, entendi. Desculpe o exagero do meu comentário, é que a gente lê tanta besteira na internet que a gente acaba se revoltando. Como eu disse acima, não sou a favor da lacração, mas sou a favor de as novelas abordarem temas sérios sem resvalar na lacrolândia barata.

      • douglas disse:

        Sim, reclamar do excesso der merchan é ser a favor de assédio. Somos todos estupradores e estamos incomodados com isso…

        A que ponto chegamos hein. O twitter fritou os neurônios dessa gente

    • Eduardo disse:

      eu morro com você se doendo por causa dessa abordagem ótima que esta tendo nessa temporada de malhação e ainda tem o gosto horrível de preferir uma trama porca e mexicana igual pro dia nascer feliz do que viva a diferença, atual e divertida mesmo com os assuntos tabus

      • French disse:

        Será que eu vou ter que desenhar para vocês ? O problema não é a abordagem em si, o problema é o excesso de novelas que veem falando desse mesmo assunto da última década para cá (em consequência disso ele acaba ficando saturado, chatissimo e clichê)

      • douglas disse:

        “divertida”

        Quem ri com essa temporada?

    • douglas disse:

      Da perfeitamente pra colocar todo esse merchan dentro de uma história amarrada e com objetivo, e é o que OOLDP ta fazendo e o que o Wlacyr sempre faz e que a Glória sempre fez com maestria. Nessa temporada o que a gente ve é uma amontoado de merchan sem história nenhuma

      • French disse:

        E que já está ficando sem assunto, a temporada ainda tem 4 FUKING meses pela frente e o Hambúrguer já falou de praticamente tudo que se poderia imaginar ( ele já falou de todos os merchandisings que eu consigo me lembrar, fora que já houve uma briga das cinco que eu sempre achei que ficaria para o último mês da trama, como um último recurso de enredo) olha sinceramente essa temporada tem grandes chances de virar um belo trambolho na reta final (com o Hambúrguer tirando história e personagens do rabo para gerar assunto)

        O meu problema com OLDP é que a novela não me desce, não sei… Não curti a forma de como o Walcry está abordando os assuntos polêmicos, é uma forma muito densa e carregada, por isso eu acho OLDP uma ÓTIMA novela das 11 (mas uma péssima novela das 9) vai entender…

  7. Kitty disse:

    Amei o shade no Walcyr!! Mas sério, já tava na hora do assediador de malhação deixar de ser um fotógrafo/alguém que a mocinha conheceu pela internet, sério, quantas vezes isso foi usado? (até a aclamada malhação intensa usou esse recurso, quando Lia e Ju fizeram as pazes). Enfim, essa temporada tá pisando no Jacobina a cada nova abordagem. Racismo? Check! Gordofobia? Check! Educação (o coitado tbm tentou fazer isso de mostrar um colégio público e um particular e flopou mais que Claudinha Leitte tentando lacrar)? Check! Check! Check! E agora assédio. Vamo aproveitar essa maravilha enquanto não chega a aparente bomba que vai ser “vidas brasileiras”.

    • putz essa da Lia foi tosca demais, verdade!

    • douglas disse:

      Flopou tanto que essa temporada pegou carona na ideia do Jacobina, que foi o primeiro a abordar isso. Fora o kibe óbvio de 2008. O máximo que se falou de educação pública nessa temporada foi aquele discursinho da orientadora na festa e depois o “drama” da Ellen. Só. Depois o Cora Coralina foi esquecido no churrasco assim como o Don Fernão a partir do meio das duas ultimas temporadas.

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